Sábado, 20 Abril

«Child’s Pose» (Mãe e Filho) por Roni Nunes

Os planos fechados e os closes pouco espaço deixam para o mundo lá fora, para o universo exterior a esse drama familiar onde mãe (Luminita Gheorghiu) e filho (Bogdan Dumitrache) lutam pelo controlo – ela no estilo da progenitora dominadora e ele pela afirmação da sua própria identidade. O duelo é interligado ao atropelamento e morte de um menino. A fragilização consequente reabre as possibilidades da mãe retornar ao seu papel de proteção do qual o filho a tinha afastado à custa de muita reatividade e brutalidade verbal – situação sobre a qual ela queixa-se amargamente nos primeiros instantes do filme.

Ao contrário de outras propostas do cinema autoral, entre as quais incluem-se algumas do vigoroso cinema romeno atual, o não dito aqui é sugerido menos pelas imagens do que pelos longos diálogos que vão, aos poucos, situando a extrema fragilidade do protagonista, vítima de uma ação castradora e que, apesar de tudo girar à sua volta, poucas vezes aparece em cena – a ao contrário da sua mãe.

Com uma temática popular, a beirar a telenovela, o realizador Calin Peter Netzer evita o pior construindo com subtileza a personalidade dos protagonistas – vindo a desenvolver aquilo que, no fundo, é um duplo processo de luto – um real e outro simbólico. Obra vencedora do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2013.

O Melhor: a construção daquilo que não é dito
O Pior: o longo diálogo final, excessivamente lamechas e ambíguo


Roni Nunes
(Crítica originalmente publicada a 16 de novembro de 2013)

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