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«Insensibles» (Insensíveis) por Hugo Gomes

De co-produção espanhola, francesa e até mesmo portuguesa (Fados Filmes), Insensibles remate-nos aos tempos da Guerra Civil Espanhola para trazer a história de um grupo de crianças diagnosticadas com uma estranha anomalia. Elas são insensíveis à dor, devido a isso, encerradas num sanatório remoto e isolado. Esta mesma história que consolida, com alguns factos históricos que ditaram o rumo da Espanha tal como a conhecemos, é a chave para a incansável busca pelo passado por parte de David Martel (Àlex Brendemühl), um neurocirurgião que sofre de uma doença terminal e que só com um transplante de medula óssea se poderia salvar.

Sob uma enigmática atmosfera, bem conseguida, Insensibles é o primeiro trabalho de realização de Juan Carlos Medina, que iniciou na indústria como assistente de Torrente (1998) de Santiago Segura. Esta é uma fita que transporta algumas ideias curiosas, infelizmente inapta em aproveita-las, para além de ainda as prejudicar em prol da inverosimilhança e incredulidade. Para além disso, é um trabalho difícil, esse, a do espectador interpretar as duas narrativas temporais, decorridas paralelamente ao encontro de um twist que as por fim, une, face a tais rupturas e incoerências.

Confrontado com isso, Insensibles consegue contorná-las ao erguer-se como um thriller de valores técnicos interessantíssimos, onde se destaca uma atmosférica fotografia de Alejandro Martínez e a beleza das sequências que sugerem “boa mão” de Medina. A juntar a isso, temos um trabalho sólido de atores, principalmente na direção do elenco infantil que não dá nenhuma prova de embaraços. Este é sim, um filme pensante que infelizmente não sabe gerir as suas próprias ideias. Devido a essa má gestão ficamos impedidos de assistir a algo glorioso e sensível, arrastando-se para um final severamente desesperado. Ficou-se apenas pelas aparências.

O Melhor – os valores técnicos a direcção do elenco
O Pior – ideias desaproveitadas e repleto de enormes incoerências


Hugo Gomes