Quinta-feira, 25 Abril

«Spring Breakers» (Spring Breakers – Viagem de Finalistas) por Hugo Gomes

Spring Breakers terá o feito de ser (até certo ponto), um dos filmes mais realistas na tradução do código moral adolescente da atualidade, ou seja um espelho de uma comunidade ausente inerentemente, cada vez mais ligada à futilidade e à envolvência com álcool, drogas, violência e sexo, aos exemplos transmitidos pela televisão, videojogos e redes sociais, um “produto” gerado pela tecnologia e pela ficção precoce. Harmony Korine, um dos argumentistas do polémico Kids de Larry Clark, contrapõe as camadas da sociedade que mesmo assim visionam esta geração como os “homens e mulheres do amanhã”, porém o “enfant terrible” de Hollywood na sua estreia no cinema mainstream, todavia independente e contraditória às suas estruturas formulares, vai mais longe, ao invés de concentrar numa crítica social como é hábito neste tipo de produções (culpar os de fora), aprofunda as ligações inexistentes das suas protagonistas e a falta de expressividade entre elas, dando um retrato mórbido destas “marionetas básicas e inanimadas“.

Em Spring Breakers, o realizador ainda atenta contra os valores preciosos da própria Hollywood, a sua integridade virginal, onde Korine pega em quatro estrelas adolescentes, entre o quais duas vindas diretamente do mundo Disney, distorcendo-as e convertendo-as em perfeitos arquétipos adolescentes. Adolescentes, essas, que para financiar a suas desejadas viagens de finalistas, assaltam um restaurante de fast-food e sem rodeios seguem para Miami, Florida, numa aventura exaustiva de sexo, drogas e muito álcool. Contudo, são apreendidas pela polícia, julgadas e condenadas a permanecer duas noites na cadeia. Mas a fiança das quatrosé paga por Alien (James Franco), um gangster e rapper que revela um certo interesse no quarteto de miúdas. Corrosivo, por vezes arrepiante devido à frieza e tom explícito com que retrata a camada jovem, Spring Breakers serve-nos como uma crítica acida a uma geração pobre de espirito, segundo Harmony Korine, um protótipo criado pela visão MTV.

Corajoso na sua abordagem, a nova e mediática fita de Korine é também dececionante na sua conceção. As ideias estão lá, o realismo encontra-se na perfeição, mas aventura das quatros adolescentes de trajes menores é uma perfeita dessincronização entre o mainstream e o arthouse. Korine é pretensioso, numa ambição sem alma, onde se perde no meio de repetições, numa banda sonora exaustiva e nos gestos de pura mimetização fílmica, até certo ponto parece invocar um certo cinema de Terrence Malick ou Gaspar Noé.

Colorido o quanto baste, a historia entra no estado ilógico, imenso de vacuidades, logo após dos objetivos terem sido definidos neste retrato impróprio. As quatros jovens parecem carentes de própria alma artística, entre as quais as duas “meninas” vindas do universo Disney que nos apresentam uma inexpressividade algo constrangedora, o mesmo se pode aplicar à bela Ashley Benson. Por outro, James Franco é um must na sua trabalhada composição algo caricatural dos gangsters sulistas, mesmo não possuindo um desempenho elaborado, o ator de 127 Hours “encanta-nos” com uma figura algo infausta para qualquer jovem. Saliento que se não fosse o ator, Spring Breakers seria obviamente o maior fracasso artístico do ano, embora o resultado seja cinema urgente com objetivos, mas de horizontes limitados.

O melhor – a coragem de Korine
O pior – a conceção de Korine


Hugo Gomes

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