Sexta-feira, 19 Abril

«Bobô» por João Miranda

Sofia vive sozinha num apartamento assombrado por memórias dolorosas e por fantasias que a limitam. Preocupada, a sua mãe contrata Mariama, uma imigrante de origem guineense, para a ajudar com a limpeza da casa. Eventualmente as duas ficam amigas e, ao procurar ajuda para os seus problemas, Sofia tem de ajudar Mariama a salvar Bobô da sua avó que quer fazer-lhe uma excisão (“circuncisão feminina”). O ambiente e a imagem do filme estão todos bem construídos e não há nada nas representações dos atores que o ponha em causa, então o que falha?

O filme lembra aquelas figuras que temos de desenhar unindo os pontos: os pontos importantes estão todos lá, mas faltam as ligações. Só que neste caso as ligações são importantes. O tempo não parece passa e o que devem (imagino) ser meses, parecem ser só dois ou três dias. O que torna difícil compreender a amizade que se forma entre as mulheres, por exemplo. Há também alguns elementos que não parecem fazer sentido: o filho de Sofia que, como o gato de Schroendinger, existe e não existe ao mesmo tempo, o trabalho de Sofia que tanto exige que saia de casa, como não, etc.

A ideia que dá é que foi imaginada a história do filme e todos os pontos que teriam de ser cobertos, mas que nunca ninguém se questionou se o que estava a ser escrito ou filmado fazia sentido para quem não estava dentro do projeto.

A construção das personagens está incompleta, recorre muito a estereótipos (a branca louca, o bom selvagem que a ajuda, etc.) e as situações acontecem porque o filme tem de avançar, não por qualquer lógica inerente à história. O filme precisava de ser reescrito em partes e de uma nova edição para fazer sentido. Como está, não funciona.

O Melhor: A fotografia.
O Pior: A história e as personagens incompletas e estereotipadas


João Miranda
(Crítica originalmente escrita em abril de 2013)

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