Quinta-feira, 28 Março

«The Grey» (The Grey – A Presa) por José Pedro Lopes

Um avião despenha-se no Alasca profundo e abandonado, em pleno inverno gelado. Os poucos sobreviventes têm poucos dias para se deslocarem até algum lugar habitado de forma a pedir ajuda. Mas se as condições de sobrevivência são terríveis, as coisas pioram quando o grupo começa a ser perseguido por lobos.

‘The Grey’ é um filme com virtudes pouco vulgares para um filme de sobrevivência e para um filme de monstros, mas acaba por sucumbir na forma carregada como gere todas essas virtudes. Liam Neeson e os demais sobreviventes são personagens mais completas que o habitual e as suas preocupações elevam-se acima dos estereótipos: o filme perde tempo a desenvolvê-los e a tê-los a questionar a vida e a morte. Logo no início, uma sequência em que Neeson prepara um dos feridos graves para a morte é assombrosa e profunda, surpreendendo todas as expectativas.

{xtypo_quote_left}Liam Neeson e os lobos enchem o ecrã, mas ‘The Grey’ tem momentos mortos a mais.  {/xtypo_quote_left} Os monstros em si também são bem mais interessantes do que o habitual: os lobos que percorrem o Alasca são caçadores perfeitos. Pacientes, silenciosos e metódicos, o filme tira perfeita vantagem de um vilão natural e de toda a sua iconografia. Vários momentos são assombrosos, com os olhos dos lobos a luzirem no escuros e os uivos a ecoarem nos montes.

Infelizmente, ‘The Grey’ é um filme terrivelmente exagerado nestes dois pontos e permite o que poderia ser uma aventura dramática e emocionante se torne frequentemente aborrecida. No segundo ato, as personagens tem longuíssimos diálogos redundantes e por vezes escritos de maneira demasiado deliberada. Uma coisa é um filme ser poético, outra coisa é enfatizá-lo ao ponto de ter os protagonistas todos as falar em forma poética.

Os lobos são vilões perfeitos, ao ponto de depressa percebermos que ‘The Grey’ é uma luta que não irão perder: o filme apenas vai debitando sobreviventes até Neeson ser o último homem pronto para lutar. Isto faz com que duas ou três cenas do segundo ato, que envolvem a tentativa de sobreviver das personagens secundárias, sejam de desfecho muito óbvio e apresentação muito previsível.

Uma pena, porque os lobos de ‘The Grey’ e o seu oponente Liam Neeson (reparem como dou crédito ao humano como oponente) mereciam um filme mais ritmado e mais emocionante – e não necessariamente tão exaustivamente (mas superficialmente) poético.


O Melhor: Toda a antecipação em torno dos lobos quando a noite cai.
O Pior: As mortes da segunda metade surgem em sequências enormes, cheias de diálogos redundantes.
 
 
José Pedro Lopes
 

Notícias