Quinta-feira, 25 Abril

«Le Moine» (O Monge) por João Miranda

Depois de ser rescrito por Artaud e uma tentativa falhada por Buñuel para adaptá-lo ao cinema, a história do jovem escritor Matthew Gregory Lewis, publicada em 1796 na Inglaterra protestante como um manifesto anti-católico, é adaptada agora por Dominik Moll ao cinema.
 
O filme conta a história de Ambrósio, um monge carismático que cai em tentação. Esse é um dos problemas do filme, com uma mentalidade retrógrada, baseada na teologia e na superstição da época, o filme acaba por não conseguir traduzir-se com sucesso para um contexto moderno. Na entrevista após o filme, Dominik Moll defendeu que pretendia, mais do que se deixar ficar pelas considerações teológicas, dar um exemplo de alguém que acredita no que faz, mas que, mesmo assim, acaba por encontrar dificuldades em manter-se no caminho certo. Apesar do esforço de Vincent Cassel, no papel do protagonista, são poucas as dúvidas ou hesitações visíveis de alguém que levantaria mais objeções quando confrontado com algumas das situações que lhe ocorrem.
 
Tendo em conta os objectivos da obra sobre o qual se apoia, este filme levanta as mesmas dúvidas que o documentário que passou há pouco nas salas “A Autobiografia de Nicolae Ceausescu” de Andrei Ujica: será possível usar material que foi criado com um propósito tão marcado e desassociá-lo desse propósito? O propósito do realizador seria melhor servido com uma atualização da história, não uma adaptação tão próxima do original. 
 
Filmada no norte de Espanha, é um feito visual impressionante, quer pelas suas paisagens magníficas, quer pela utilização da luz e do contraste claro-escuro explorado pelo diretor de fotografia. Há também um esforço consciente do realizador de tentar utilizar técnicas cinematográficas tradicionais (não digitais, portanto), com várias referências ao cinema mudo, como o próprio referiu. Infelizmente, também isso contribui para aumentar a sensação de anacronismo do filme.
 
Ainda assim, é um filme que, só pela imagem, consegue agarrar um espectador do início ao fim, sem se tornar maçador, mas também não sendo imperdível.

O Melhor: A imagem e a paisagem.
O Pior: O anacronismo e a aparente facilidade com que o protagonista aceita situações aberrantes sem reagir.
 
 
João Miranda
 

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