Sexta-feira, 19 Abril

“Valkyrie” (Valquíria) por Jorge Pereira

Facto: fazer um filme sobre um episódio da 2ª Guerra Mundial e não mostrar o holocausto judeu ou a participação civil no conflito é algo raro. Muito raro. Aliás, não me lembro de um filme sobre este conflito em que tudo o que é apresentado é exclusivamente do ponto de vista militar ou político.

E se podemos considerar isso uma vantagem, muita gente pode considerar uma unidimensionalidade inaceitável. Assim, não é à toa que muitas das criticas negativas feitas a este filme se prendem com a ausência de verdadeiras emoções, de verdadeiros dramas humanos.

Na realidade, Bryan Singer imita um pouco os oficiais alemães que controlavam as comunicações. Apresenta os factos, envia-nos os detalhes (e tirando aquele pequeno detalhe de frisar constantemente que nem todos os alemães estavam de acordo com o dito nacional socialismo) deixa-nos a nós tirar as conclusões. E nós, sabendo os factos da hitória, sabemos perfeitamente de que lado estamos. E como queremos que tudo funcione a 100%.

Por causa disso mesmo, este é um filme que se enquadra muito mais no estílo thriller de acção do que propriamente num drama. E pode dizer-se que esse desígnio, que automaticamente retira ao filme qualquer hipótese de concorrer aos grandes prémios da temporada, funciona plenamente.

Esta é uma obra intensa, frenética e que desde o primeiro momento nos prende e nos arrasta numa teia conspirativa em que qualquer peça do dominó que não ceda, estraga o plano global. E foi isso que aconteceu. E até podemos mencionar à vontade este pseudo spoiler, pois todos sabemos que o plano de Valquiria, que consistia em matar Hitler, não funcionou. O “Fuhrer” não foi morto, o regime nazi continuou e só com os aliados a cercar Berlim, Hitler decidiu suicidar-se.

Porém, e mesmo sabendo o triste fim do plano que faz a base deste filme, “Valkyrie” é um trabalho bem conseguido, ainda que não nos marque para toda a eternidade.

Para construir a tal intensidade que acima falei, Singer rodeou-se de uma montagem e fotografia exemplares, uma banda sonora “enervante” e uma presença no elenco de nomes sólidos capazes de nos fazer agarrar à cadeira e desejar que tudo fosse completamente diferente.

E só por isso, este filme já vale uma ida ao cinema. Nem que seja pelo prazer instantâneo de sentir a adrenalina no corpo, ou de conhecer uma parte da história muito pouco explorada e conhecida pelas pessoas.

 

 

Jorge Pereira

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