Quinta-feira, 28 Março

«Grupo 7» por Jorge Pereira

 

«Bota na conta do papa». Assim diz o Capitão Nascimento em «Tropa de Elite», um filme brasileiro que seguia a forma como agentes do BOPE tinham que limpar as favelas de traficantes para preparar a chegada do Papa João Paulo II. Em «Grupo 7» o princípio é o mesmo, mas o cenário é a Sevilha anterior à EXPO 92, local onde no seu centro histórico reinava também o tráfico de drogas. Para acabar com o tráfico e a imagem desoladora de uma cidade à beira de uma exposição universal é criado um grupo de polícias cuja finalidade é limpar a cidade. Estes homens são muito diferentes do exemplo brasileiro. Com uma ação menos musculada e com uma significativa artilharia pesada inferior, eles aos poucos parecem dispostos a tudo para levar a sua avante, nem que para isso tenham de violar a lei e até apoderar-se de drogas no meio de operações policiais de maneira a depois distribui-la a pequenos traficantes em troca de informações. 
 
Esta abordagem cinematográfica, dos agentes da lei que violam a mesma para deter criminosos, é uma temática recorrente do cinema, havendo constantes exemplos vindos da Venezuela, México, Colômbia (que só agora aos poucos vão abandonando o cinema narcotráfico), EUA (nos anos 70 com a criminalidade em Nova Iorque e nos anos 2000 com a ameaça terrorista), França e Itália, onde ainda no passado recente surgiu um filme extremamente bem conseguido: «A.C.A.B.: All Cops Are Bastards», que estudava as relações de poder e da violência no seio de um grupo de policias de intervenção (ou «Celerino» como se diz em italiano).
 
Se por um lado esta forma pode ser encarada como uma triste realidade repleta de discursos politicamente incorretos, na verdade – e na maioria das vezes – está em jogo questões amorais, levantando-se a velha questão tão na berra devido ao terrorismo recente se os fins justificam os meios (algo com que Jack Bauer lidava constantemente em «24» e que agora se repete em «Homeland»). 
 
«Grupo 7» circula assim em torno das ações deste grupo de anti-heróis e da sua cada vez maior perda de inocência dentro da estrutura policial, entrando mais e mais em atos ilegais para limpar a cidade a mando do poder político. A tudo isto, há uma tentativa de humanização de algumas personagens de forma individual, de maneira a criar uma segunda camada e uma maior profundidade ao filme, particularmente centrando-se nos inspetores Angel (Mário Casas, também presente na Cinefiesta no filme «Tengo Ganas de Ti», e Rafael (António de La Torre).
 
O resultado final é um filme com vários níveis de problemas. Se por um lado existe sempre uma boa forma na intriga da busca dos culpados pelo tráfico e até, derradeiramente, um vilão com um passado criminal curioso com os agentes, isso não implica que exista um crescente da tensão ao longo do filme, até porque a certo ponto as personagens e as ações policiais são tão desagradáveis do ponto de vista humano que estamos literalmente a “borrifar-nos” para o que lhes vai acontecer. E aqui entramos já no nível particular dessas mesmas personagens, onde as pequenas histórias tentam a todo o custo que o espectador entre em sintonia com os protagonistas mas sem sucesso. Bons exemplos de personagens desagradáveis (também policias) que nos conseguiam prender nas suas artimanhas são «No Habrá Paz Para Los Malvados», um filme excepcional de 2011 onde José Coronado transpirava carisma no meio da sua ruindade e meios ilícitos; e «Policia Sem Lei», clássico de Abel Ferrara que mostrava os abusos de quem tinha o poder de a ditar. Ao contrário destes dois filmes, a «Grupo 7» falta carisma e o facto dessas vidas familiares e pessoais serem pouco espessas, cliché e muitas vezes desinteressantes – especialmente quando se centram em Rafael e a sua busca da redenção e simpatia por parte do espectador na sua relação com uma toxicodependente (este elemento era frequente no cinema policial americano dos anos 70 e 80) – tira ainda mais fulgor à fita, adicionando-se ainda o facto de haver uma clara falha no reportar a interação entre os colegas de trabalho deste grupo, como o já citado «A.C.A.B» o fez tão bem.
 
Por tudo isto, «Grupo 7» acaba por falhar em quase todos os pontos nevrálgicos da sua história, o que é pena porque os primeiros 30 minutos até são bastante bem conseguidos e indiciavam algo de grande fulgor no mundo dos thrillers e no meio de personagens que mudam os seus princípios à medida que a história avança.
 
O Melhor: Os 30 primeiros minutos e a intenção
O Pior: A falta de carisma e a falta de fulgor devido ao cada vez maior desinteresse pelas personagens…
 
 
 Jorge Pereira
 
 

Notícias