Terça-feira, 23 Abril

«L» por Jorge Pereira

Filme com uma forte dose de surrealismo e abstração que parece ter contaminado a maioria do cinema grego atual 
 

Depois de estrear no Festival de Sundance, «L» – obra que marca a estreia de Babis Makridis nas longas-metragens – invadiu o Festival de Roterdão e o IndieLisboa, trazendo para os certames uma dose de surrealismo e abstração que parece ter contaminado a maioria do cinema grego atual (falando-se mesmo de uma nova vaga pós «Dogtooth» de Yorgos Lanthimos). O próprio «Attenberg», de Athina Rachel Tsangari, segue um pouco esta linhagem, mas em «L» tudo é ainda mais bizarro.
 
No filme seguimos um homem que vive no seu carro. A sua relação com o veículo é de completa cumplicidade, sendo este o sítio onde dorme, faz a sua festa de anos, recebe visitas e trabalha (na distribuição de mel a um único cliente). 
 
Quando é despedido, por constantes atrasos, o homem entra numa rutura com a sua vida e destrói a viatura. Este corte com o passado abre portas a uma nova forma de estar, passando o «nosso herói» a andar de mota. 
 
Podia estar aqui a dizer que o filme é uma intensa alegoria à própria Grécia atual e aos gregos – de rutura com o passado e o encontrar uma nova forma de ver o futuro – mas não vou tentar arranjar uma explicação tão lógica para um filme tão aberto. 
 
Co-escrito por Efthimis Filippou, colaborador de Lanthimos, o filme evolui assim em jeito de comédia non sense onde não faltam passagens surreais que falam por si próprias. Veja-se uma em que a personagem interpretada por Aris Servetalis (outro colaborador de Lanthimos) explica que apesar de não parecer, o seu melhor amigo não é um urso. No fundo, ele apenas se parece com um urso para enganar outros ursos de maneira a roubar o mel (?!?!). Em outro momento bizarro temos outra personagem que da proa de um barco vai cantando. Podia continuar aqui eternamente a explicar várias sequências bizarras e que ocasionalmente fazem rir, mas que no compito geral transformam o filme em algo muito mais pretensioso do que profundamente artístico…
 
Ainda assim, e se é fã desta «nova vaga« grega, «L» é um filme que merece ser visto… 
 
 
 Jorge Pereira
 

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