Sexta-feira, 29 Março

Sessões na Cinemateca – Escolhas de 19 a 24 de abril

As projeções de filmes na Cinemateca Portuguesa estão de volta e durante a segunda metade de abril vão dar-nos uma amostra do que aí vem durante o resto do ano de 2021. Como anunciámos na semana passada, são muitos e para todos os gostos os ciclos de cinema que vão tomar conta das salas da Barata Salgueiro ao longo dos próximos meses. Apropriadamente intitulado “Brevemente neste Cinema”, o conjunto de sessões desta e da próxima semana antecipam as temáticas, os géneros, os cineastas e as estrelas que vão marcar presença na programação futura.

Estas são as nossas sugestões para as sessões a decorrer na semana de 19 a 24 de abril:

– Finis Terrae (1929) – Segunda-feira, 19 de abril, 19h00, Sala F. Félix Ribeiro, com acompanhamento ao piano por João Paulo Esteves da Silva. Esta sessão que abre o ciclo “Os Mares da Europa” – uma iniciativa integrada na programação cultural da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia 2021 – apresenta duas curtas-metragens antes de projetar um filme de Jean Epstein. Trata-se de dois exemplos remotos do interesse do cinema pelo mar: La Mer (Baignade En Mer), um filme que fez parte do programa da célebre primeira sessão pública dos irmãos Lumière, e A Sea Cave Near Lisbon que o britânico Harry Short rodou na Boca do Inferno, em Cascais, ainda em 1896. Já Finis Terrae é uma obra do teórico e realizador Jean Epstein, uma das mais importantes figuras do cinema francês no período mudo. Realizou filmes próximos do cinema experimental, bem como documentários ou semi-documentários, frequentemente ambientados no litoral da Bretanha, como é o caso deste filme. Epstein, que detestava atores, inventou o conceito de “paysage acteur”e utilizou unicamente não-profissionais neste filme, cuja ténue trama narrativa (“a vida é feita de situações e não de histórias”, dizia o cineasta) faz da paisagem marinha da Bretanha uma personagem dramática.

The Locket (O Medalhão Maltido, 1946) – Quarta-feira, 21 de abril, 15h30, Sala M. Félix Ribeiro. Caso típico do noir americano assinado pelo alemão John Brahm na sua época hollywoodiana (para a RKO), com fotografia de Nicolas Musuraca, justamente conhecido pelo seu “trabalho noir”. The Locket distingue-se pela complexidade narrativa alinhada ao interesse pela psicanálise. Tudo começa momentos antes da celebração de um casamento cuja noiva tem um passado a revelar pela intervenção inesperada de um psiquiatra que já fora seu marido. A ação progride por um encadeado de flashbacks e pontos de vista numa espiral do tipo matrioska, em que na narrativa da personagem de Brian Aherne (o ex-marido) se insere a de Robert Mitchum (um artista outrora noivo da mesma mulher) e, nesta, a memória de infância de Laraine Day (a protagonista). Serão dois os ciclos dedicados ao noir durante o resto do ano.

Mulholland Drive (2001) – Quinta-feira, 22 de abril, 15h30, Sala M. Félix Ribeiro. No início deste milénio, David Lynch partiu da ideia de “uma mulher que tenta tornar-se estrela em Hollywood e dá por si como uma detetive possivelmente a entrar num mundo perigoso”, e construiu um filme profundamente hipnótico, narrativamente assimétrico, abissalmente no limiar da realidade e do imaginário. Há uma chave azul, uma caixa azul, mas o rumo é a desorientação. Este que já é um clássico incontornável do cinema norte-americano é mostrado em antecipação do ciclo “Canções”, que se centrará em obras em que certas melodias irrompem e suspendem a ação, a atmosfera, e o movimento das coisas. Em Mulholland Drive ouve-se, num lancinante momento em suspenso numa sala-cabaret, Llorando, por Rebekah Del Rio, uma versão de Crying de Roy Orbison.

Le Fond de l’Air Est Rouge (1977) – Sexta-feira, 23 de abril, 15h30, Sala M. Félix Ribeiro. Pode filmar-se o “ar do tempo”? Chris Marker mergulhou nos arquivos e fez a crónica, simultaneamente épica e intimista, de dez anos (1967-1977) de contestação do sistema político-económico mundial. Esta obra é uma montagem lírico-dialética da revolução em curso, da guerra do Vietname às manifestações de estudantes, de Che Guevara aos tanques de Praga, da tortura na América Latina aos bombardeamentos americanos, passando por breves imagens da Revolução Portuguesa. “Ao longo dos últimos dez anos, um determinado número de homens e de forças (por vezes mais instintivas que organizadas) tentaram tomar em mãos os seus destinos e inverter as peças do jogo. Todos eles falharam nos terrenos que tinham escolhido. Apesar disso, a sua passagem foi aquilo que mais profundamente transformou as condições políticas do nosso tempo. Este filme não pretende senão colocar em evidência algumas etapas desta transformação”, nas palavras de Marker, que irá ser alvo de uma retrospetiva integral durante 2021 na Cinemateca. Em exibição está a última versão do filme, de 180 minutos, remontada pelo cineasta em 1996.

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