Quinta-feira, 28 Março

Filme com Kate Winslet e Saoirse Ronan acusado de especular sobre alegado relacionamento lésbico

Em 2017, o realizador Francis Lee deu nas vistas com God’s Own Country, romance dramático sobre dois rapazes que se conhecem num cenário rural no norte da Inglaterra. Agora o cineasta prepara um novo filme, um drama de época que vai relatar a alegada relação entre a paleontóloga Mary Anning e uma mulher londrina. Com o nome Ammonite, o filme terá Kate Winslet e Saoirse Ronan nos papéis principais. 

A família de Mary Anning não está satisfeita com a obra, pelo simples facto de não existirem provas de uma alegada relação lésbica entre as duas mulheres. “Os cineastas precisam recorrer a aspectos não confirmados da sexualidade de alguém para tornar sensacional uma história já de si notável?“, disse Barbara Anning numa entrevista ao The Tellegraph. “Imaginem a vergonha que esta mulher sentiria agora por ter a sua vida sexual privada discutida e exibida no grande ecrã. Isso [a alegada relação lésbica] não acrescenta nada à sua história. (…) Acredito que Mary Anning foi abusada e maltratada porque era pobre, sem instrução e uma mulher. Não é suficiente?”.

Apesar de ter sido conhecida mundialmente pelo grande número de importantes achados paleontológicos que fez na cidade de Lyme Regis, no condado de Dorset, onde vivia, o facto de ser mulher e de classe social mais baixa impediram-na de participar da comunidade científica da Grã-Bretanha do século XIX – dominada por anglicanos ricos. 

Na mesma entrevista ao Telegraph, outra familiar de Mary, Lorraine Anning, acredita que a decisão de criar um relacionamento gay na história é uma forma de atrair mais público, destacando a parente como  “uma mulher solitária e independente“,  algo que nos tempos que correm poderiam levar alguns a assumir que seria lésbica. Ainda assim, Lorraine diz que a criação deste relacionamento lésbico não é verdadeiramente relevante, esperando que o filme seja feito com “bom gosto e no espírito” da familiar, que bem merece uma obra em seu torno.

Francis Lee já respondeu às acusações, escrevendo nas redes sociais: “Depois de ver a história Queer ser rotineiramente ‘endireitada’ através da cultura, e tendo uma figura histórica onde não há evidência de qualquer relacionamento heterossexual, não me é permitido ver essa pessoa dentro de outro contexto? (…) Particularmente uma mulher cujo trabalho e vida foram submetidos aos piores aspetos do patriarcado, discriminação de classes e desequilíbrios de género (…) Como alguém da classe trabalhadora e cineasta Queer, eu continuamente exploro os temas de classe, género e sexualidade no meu trabalho, tratando as minhas personagens reais com total respeito e espero dar-lhes vida e as relações autênticas e respeitosas que merecem“.

Notícias