Sexta-feira, 19 Abril

Irmãs de Armas: combatentes curdos criticam filme francês

Chegou esta semana às salas francesas o filme Sœurs d’armes (Irmãs de Armas), projeto que marca a estreia nas longas-metragens da jornalista francesa Caroline Fourest, antiga colaboradora do jornal satírico Charlie Hebdo.

Centrado nos curdos que combatem contra os extremistas do Estado Islâmico no Iraque e na Síria, o filme foca-se num grupo de combatentes exclusivamente no feminino, dando principal destaque a Zara, uma jovem da minoria yazidi, particularmente visada pelo Daesh.

A crítica gaulesa tem recebido com muita frieza o projeto, colando-o ao pior cinema de Hollywood, e a estas vozes juntaram-se as de combatentes curdos com experiência no campo de batalha.

Numa carta aberta à cineasta, publicada nas redes sociais, as combatentes e os combatente francófonos de Rojava (CCFR) criticam fortemente o projeto, garantindo que a fita “transveste a realidade histórica” e apresenta “as forças curdas como uma única entidade com contornos políticos nebulosos“.

Para além disso, surgem palavras sobre o exagero do papel dos Peshmergas na luta contra os jihadistas, adiantando que Fourest quis elevar os seus feitos por ter filmado a obra no Curdistão iraquiano. O coletivo denuncia ainda cenas de combate “inspiradas por uma visão medíocre hollywoodiana da guerra  (sem orçamento para as fazer bem)“, executadas de tal maneira que “nem uma criança” acredita nessas sequências

Para além da cineasta, também a atriz Camélia Jordana é visada na pubicação, pois ambas trabalharam no filme como uma peça de entretenimento: “Guerra não é entretenimento“, diz o grupo, que aponta baterias à forma caricatural na construção das personagens e à visão feminista ocidental com claros objetivos para a agenda da realizadora. “Uma reescrita completa da História a favor de uma visão do feminismo muito ocidentalizada“, escreve o grupo.

Em declarações antes da estreia da obra em França, Caroline Fourest explicou que acha que não chega fazer documentários ou escrever livros sobre o tema e que o projeto precisava de uma nova linguagem, “do poder do Cinema.“: “Achei esse assunto épico … Nesta guerra, durante uma única vida, as mulheres passaram do auge da opressão – sendo vendidas como escravas sexuais – para o cume do poder: a pegarem em armas para se vingar dos seus carrascos.

Sobre a escolha de um drama em torno dos yazidis, Fourest explica que o seu drama “concentra todos os dramas do nosso tempo e todos os assuntos“, em especial a questão das mulheres e a do fanatismo. “Este é um genocídio muito recente, foi em agosto de 2014, mas o que foi ali praticado lembra o pior do século XX. Homens yazidi foram mortos, as mulheres mortas ou violadas coletivamente. As mais jovens foram deportadas como escravas sexuais. Algumas pessoas escaparam, tornaram-se soldados. Eles viram muitas mulheres, às vezes irmãs, a vingarem-se. Essa reversão incrível, passando de vítima a guerreira, está no centro do filme. 

Soeurs d’Armes (Irmãs de Armas) não tem data de estreia em Portugal.

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