Quinta-feira, 28 Março

“É a minha cruzada contra a Igreja Católica”, diz Rupert Everett sobre a minissérie «O Nome da Rosa»

É a minha cruzada contra a cultura em que cresci: aos 7 anos, os meus pais mandaram-me para Ampleforth, um mosteiro beneditino austero. E, em geral, contra a Igreja Católica que, na Idade Média, foi mais terrível que a ISIS e que, ainda hoje, me quer ver no inferno pelo simples facto de ser gay“. Estas são as palavras do ator Rupert Everett à Vanity Fair italiana, enquanto promovia o seu novo trabalho, a minissérie O Nome da Rosa, uma adaptação da obra de Umberto Eco, já adaptada ao cinema em 1986 por Jean-Jacques Annaud.

Na série, cujo primeiro episódio foi exibido na passada segunda feira em Itália, Everett interpreta a personagem do terrível inquisidor Dominicano Bernardo Gui. Ao lado dele, no protagonismo, temos John Turturro, também coescritor e coprodutor executivo, que veste o hábito de Guilherme de Baskerville, o monge franciscano que no filme foi interpretado por Sean Connery.

À Vanity Fair, Everett disse ainda que prefere a sua personagem à de Guilherme de Baskerville, pois gosta de mostrar o lado negro de uma instituição que “detesta“. Nas suas críticas, aponta o dedo ao materialismo do clero, dando o exemplo de quando vai a Roma assiste sempre a sacerdotes e seminaristas a pedirem cardápios de cinco pratos nos restaurantes: “eles comem, bebem, gastam (….) Fariam melhor em seguir o exemplo de Jesus, dar tudo à caridade e viver na pobreza“.

O Papa Francisco também não sai ileso na entrevista, com o britânico que este ano faz 60 anos a dizer que acha que tudo nele é “marketing” e que gostaria de saber mais sobre o seu percurso juvenil, quando vivia na Argentina no tempo dos “desaparecimentos”: “Quase preferi o anterior (Ratzinger). Na época, detestava-o pelo conservadorismo, mas pelo menos era autêntico. É um pouco “o que e sinto em relação ao presidente dos Estados Unidos: agora que há Trump lamentamos pelo Bush. Imagino que vocês italianos sentem a mesma nostalgia por Berlusconi, agora que governa Salvini“, diz.

Falando nos seus tempos no mosteiro, o ator confessa que cometeu muitos pecados para impedir que a vocação chegasse até ele, admitindo que queria ser uma mulher e se disfarçava como tal: “Nos fins de semana enfiava-me no camarim do teatro, usava saias, chapéus, lenços, e em seguida passava pelas arquibancadas do estádio onde os meus companheiros jogavam rúgbi: Fingia ser espectador. Quando os monges descobriram, perseguiam-me literalmente até que me desfizesse de todos os trajes emprestados “.

Uma grande produção…

Esta produção italiano-franco-alemã com um orçamento de 25 milhões de euros conta com oito episódios de 52 minutos cada e segue o enredo do romance publicado em 1980 que vendeu mais de 50 milhões de cópias em quarenta idiomas. De acordo com a produção, Umberto Eco validou um primeiro rascunho do guião antes de sua morte em 2016, tendo a sua família seguido posteriormente o projeto.

Filmado em inglês e em grande parte na Cinecittà em Roma, como o filme de 1986, O Nome da Rosa combina o crime medieval com um retrato histórico de uma época conturbada. No livro – e na minissérie – seguimos Guilherme de Baskerville (John Turturro), o monge franciscano que primeiro descobrimos pregando aos mais pobres em 1327, quando aceita tornar-se o mentor de Adso de Melk (aqui Damian Hardung, no filme era Christian Slater), um jovem novato em rebelião contra o pai.

Caminhando até uma abadia isolada nos Alpes, onde Guilherme deve fazer parte da delegação do Imperador Luís da Baviera para discutir com os emissários do Papa João XXII (Cheky Karyo), os dois são confrontados com a morte misteriosa de vários monges. Guilherme é então instruído pelo abade local a liderar a investigação às mortes, isto enquanto o papa envia para o local o cruel inquisidor Bernardo Gui (Everett).

A minha personagem é de um homem de fé, um filósofo e um homem de ação, contra a violência e a tortura, um homem que entende os valores da humanidade e das mulheres. Umberto Eco, através do Guilherme de Baskerville, percebe a força do conhecimento contra a demagogia. Devemos resistir com este conhecimento, no curso da história as pessoas que fazem perguntas são as primeiras a serem atacadas. Achei que esta era realmente muito bonita como história, muito reveladora.“, disse Turturro à imprensa italiana sobre o seu papel e sobre o livro de Umberto Eco.

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