Quinta-feira, 25 Abril

Kheiron: “não nascemos delinquentes, nós tornamo-nos nisso”

O comediante, ator, argumentista e realizador Kheiron teve em Ou Todos Ou Nenhum (2015) a sua primeira longa metragem. Agora, quatro anos depois, Ervas Daninhas (2018) estreia nas nossas salas e o realizador já está a desenvolver o guião do seu novo filme que deve chegar aos cinemas em 2020.

Em Ervas Daninhas seguimos Waël (Kheiron), um jovem dos subúrbios de Paris, que juntamente com Monique (Catherine Deneuve) vive de pequenos golpes, como enganar velhinhos no supermercado para lhes ficar com o carrinho de compras. É numa dessas artimanhas que o duo é travado por Victor (André Dussollier), um velho amigo de Monique que cuida de um centro de crianças desfavorecidas e problemáticas, que os obriga a trabalharem com ele.

Fugindo à fórmula do seu primeiro filme, Kheiron reconhece que usou os mesmos elementos, mas aplicou uma nova forma: “Teria sido um erro tentar reproduzir a mesma fórmula. Então, decidi pegar nos mesmos ingredientes, mas inventar outra receita, completamente diferente. Fui inspirado por um material que é muito pessoal para mim e decidi falar sobre algo que me afeta particularmente: a educação (…)

Passado em dois tempos, o filme acompanha a difícil infância de Wael e na actualidade, quando é forçado a trabalhar com jovens problemáticos, acabando por encontrar a sua vocação: “Queria perturbar totalmente o espectador e não há, deliberadamente, nenhuma pista visual ou sonora entre as duas temporalidades. Se projetarmos separadamente um extrato das cenas do passado e outra das cenas do presente, poderíamos acreditar que estamos perante dois filmes diferentes. Não é o mesmo país, não são os mesmos tempos, não é a mesma língua, nem os mesmos atores (…) Queria distrair o espectador, mostrando-lhe duas histórias que eventualmente se encaixam, criando um sistema de ramificações que dá mais profundidade a essas personagens“.

Sobre os finais felizes repletos de sacarina cinematográfica, o realizador reconhece que gosta deles no cinema e que procura passar a mensagem de solidariedade, transmissão de conhecimentos e de redenção: “Não pensei nisso deliberadamente, mas percebi que havia falado instintivamente sobre esses valores essenciais no filme. Na verdade, comecei com a frase de Victor Hugo: ‘Lembrai-vos sempre de que não há ervas daninhas nem homens maus: — há, sim, maus cultivadores’. Nós não nascemos delinquentes, nós tornamo-nos nisso. No entanto, os “cultivadores” não são apenas os pais: depois dos nove meses de gravidez, uma criança pertence a todos. Para mim, os “cultivadores” são toda a sociedade”.

Um tom de fábula

Os filmes preferidos de Kheiron são Forrest Gump, Intouchables (Amigos Improváveis), Love actually (O Amor Acontece) e Starbuck (O Lendário Starbuck). Encontrando pontos em comum entre os seus dois filmes, o realizador admite que ambos são comédias dramáticas que todos pensam como fábulas. “Adoro esta maneira de simplesmente dizer coisas complexas e escrever uma pequena história em grande estilo. Na realidade, um conto torna possível ensinar a criança e obriga a simplificar. O que eu realmente gosto é que um número máximo de pessoas se reconheça no que estou a dizer (…)”

Os Atores

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Catherine Deneuve e André Dussollier acompanham Kheiron no elenco e, embora o realizador admita que não conhecia bem as suas filmografias, frisa que ambos foram as suas primeiras escolhas: “Disseram-me que a Catherine é muitas vezes [vista no cinema] como burguesa e emproada, eu quis “sujá-la” um pouco. Muitas pessoas disseram que nunca a tinham visto assim. Não precisei convencer a Catherine ou o André: eles vieram espontaneamente após a lerem o guião“.

Já os seis jovens “atores” chegaram através de um casting efetuado por Adelaïde Mauvernay: “O meu primeiro conselho foi que não queria atores, mas adolescentes da vida real. (..:) Mas isso provou ser um processo longo demais, complicado de implementar e ineficiente. Os papéis das crianças são muito técnicos para não-atores. Foi então que passamos por agências de jovens atores e associações teatrais e tivemos que ver cem crianças por papel. (…) reduzimos os nossos potenciais candidatos a uma dúzia. Depois coloquei dois miúdos por papel a testar em grupos para encontrar a combinação ideal e a melhor química. Foi uma felicidade quando os encontramos.

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