Terça-feira, 19 Março

SNU: a grande história de amor entre Snu Abecassis e Francisco Sá Carneiro

Snu chega aos cinemas a 7 de março

“Ai, como eu te queria toda de violetas
E flébil de cetim…
Teus dedos longos, de marfim,
Que os sombreassem jáias pretas…”

– parte do poema “A inegualável” (1915) de Mário Sá Carneiro

Depois de termos dado uma olhadela à história da jovem Ebba Merete Seidenfaden, a editora Dinamarquesa que ficou conhecida por todos como Snu Abecassis, na série Três Mulheres (interpretada por Victória Guerra), o filme de Patrícia Sequeira – Snu – em torno do grande amor entre ela e Francisco Sá Carneiro, está quase a chegar aos cinemas portugueses. 

Inspirado em fatos verídicos, mas com a ficcionalização de diversos momentos, este projeto da Sky Dreams em coprodução com a Santa Rita Filmes acompanha a história de amor e coragem vivida entre Snu Abecassis e Francisco Sá Carneiro, isto até ao trágico acidente que lhes ceifou a vida em Camarate na noite de 4 de dezembro de 1980.

O filme começa mesmo com essa constatação. A pequena avioneta onde Sá Carneiro, Adelino Amaro da Costa e Snu viajavam caiu alguns segundos depois de levantar voo.

Regressamos depois anos antes, ainda aos tempos da PIDE e quando Snu estava casada com Alberto Vasco Abecassis. Assistimos aos diálogos com os censores, intrigados porque editava obras que falavam de temas como o aborto: “as mulheres portuguesas querem saber de renda, culinária e família”, ouvem-se nos protestos do Estado Novo.

O filme inicia então uma viagem até aos anos 80, mostrando o seu trabalho na Dom Quixote, os seus diálogos políticos e sociais com algumas figuras, como Mário Soares, e a paixão avassaladora que teve com Sá Carneiro, líder do PPD e da AD, a Aliança Democrática que juntava esse partido com o CDS e PPM. No processo, a fita dá ênfase a como a relação adúltera entre os dois teve impacto na época, abalou a sociedade, os costumes e entrou nas discussões políticas. Há um momento peculiar que chega a mostrar o fim da amizade de Snu com o já citado Mário Soares, isto após este ter atacado Sá Carneiro num comício no Algarve, onde disse que se o líder do PPD não conseguia arrumar a sua própria casa, não saberia arrumar o país.

Neste filme de época dos anos 70, que retrata as elites portuguesas, a grande novidade é ter a Snu Abecassis a dar o seu olhar sobre o nosso país e sobre várias variáveis da nossa sociedade“, explicou José Gandarez, produtor, nos últimos Encontros do Cinema Português, em junho passado. Estamos a falar da urgência de amor, do grande amor entre Snu Abecassis e Francisco Sá Carneiro. Queremos retratar esta história de amor sobre um prisma diferente do que a história de Francisco Sá Carneiro tem sido retratada no passado. Não é um filme político, embora tenha política. É um filme social e uma história de amor. É essa história de amor que queremos retratar. A questão do atentado, da morte de Francisco Sá Carneiro, é logo resolvida no início da obra

Reconhecendo que estamos perante um filme de grande orçamento -“tivemos de investir muito em cenografia, décors, fotografia, guarda roupa, banda sonora, etc” – Gandarez frisou que uma das maiores dificuldades era o facto de algumas pessoas que estão representadas no filme estarem vivas, “o que pode gerar uma confusão entre a realidade e a ficção“. Para isso, o produtor explicou que o filme contou com o apoio da historiadora Helena Matos na investigação e na validação dos factos.

 

 

 A obra conta, aliás, com uma marca profundamente feminina na sua conceção: “na protagonista (Inês Castel-Branco), na realizadora (Patrícia Sequeira), na historiadora e na guionista (Cláudia Clemente)“. A película conta ainda com apontamentos e imagens reais: “Há uma mistura durante a história entre imagens de arquivo e a ficção [à semelhança de Narcos]. Na trama, o principal é o amor, a família, os costumes e a mentalidade, representando o Portugal dos anos 80 que fundou a nossa democracia recente“, disse Gandarez.

Já Inês Castel-Branco confessou nos Encontros do Cinema Português que fez uma enorme pesquisa sobre a personagem, reconhecendo-a como uma figura “incrível” e lamentando que poucos a conheçam: “ficava um pouco na sombra de Sá Carneiro, embora tenha sido uma mulher que fez muito por Portugal“.

Pedro Almendra, Inês Rosado, Simon Frankel, Ana Nave, Patrícia Tavares e Pedro Saavedra, entre outros, fazem também parte do elenco.

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