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“Preferi me libertar de todas as referências”, diz Gilles Lellouche sobre o seu «Ou Nadas Ou Afundas»

Com 4 milhões de espectadores em França, a comédia dramática francesa Le Grand Bain (Ou Nadas ou Afundas) chegou esta semana aos nossos cinemas.

O filme, sobre um grupo de homens que decide criar uma equipa de natação sincronizada, teve a sua estreia em Portugal na Festa do Cinema Francês, e marca a primeira realização a solo do conhecido ator Gilles Lellouche – isto depois de assinar com Tristan Aurouet a comédia Narco (2004) e de ter filmado um dos segmentos de Descaradamente Infiéis (2012). Para Lellouche, esta sua primeira incursão na realização a solo em longas-metragens pode soar tardia, mas tem uma explicação simples: “A ideia era principalmente encontrar um assunto que me tocasse e permitisse que fizesse um filme ainda mais pessoal que o Narco. Quanto aos Descaradamente Infiéis, era um projeto coletivo. São dois filmes que gostei muito, mas não estão intimamente relacionados com quem sou.

A origem da ideia

A ideia para o filme nasceu há oito anos e adveio do desejo de Lellouche em falar da “lassitude, para não dizer depressão latente” que sentia em pessoas da sua geração e por todo o país. “Nesta corrida um pouco individualista (…) esquecemos o coletivo, a pulsão, o gosto do esforço. Esse círculo de discurso marcou-me muito quando assisti a reuniões de alcoólicos anónimos para preparar Un singe sur le dos (2009), o filme de Jacques Jersey em que interpretei um alcoólatra. Surpreendi-me com o calor, o diálogo, a escuta que reinava ali, sem nenhum julgamento. Nós vivemos numa sociedade onde programas de TV, os debates são cheios de julgamentos e opiniões pronunciadas sobre tudo, por isso amei essa bolha de partilha. Comecei a escrever sobre isso, mas faltava uma dimensão poética e cinematográfica. Hugo Selignac aconselhou-me a assistir a um documentário que seguia um grupo de nadadores sincronizados suecos (…) soube que tinha encontrado o meu tema: um grupo de homens mais ou menos desencantados que correm atrás dos sonhos caídos”.

As personagens

 

Com uma dúzia de papéis no seu filme, Lellouche desenvolveu durante muito tempo as suas personagens: “Nós sofremos um pouco da psicologia das bandas-desenhadas nas comédias. Por isso, durante quase um ano desenvolvi o arco narrativo e a sua trajetória, pois queria que todas as personagens tivessem uma existência adequada e com acidentes [de percurso]. Como o filme era relativamente masculino no tema, quis também focar-me em personagens femininas. É através das mulheres e por elas que os meus heróis vão chegar lá.

Sobre a escolha dos atores, Lellouche falou em opções mais por vontade que necessidade: “Foi especialmente para mim uma evidência das personagens. O Mathieu [Amalric], conheci nas filmagens de Que Famílias! (2015) do Jean-Paul Rappeneau, admiro o seu trabalho desde a Cours Florent (escola de Teatro), então a ideia de trabalhar com ele estava na minha mente há muito tempo. O Philippe Katerine, se ele dissesse que não, estaria na merda porque ele era o único que poderia interpretar Thierry sem fazer dele uma caricatura de um homem infantil irritante. O Jean-Hugues Anglade, moramos no mesmo bairro (…) tinha na minha mente a sua imagem em Rainha Margot, com os seus longos cabelos, era perfeito para meu roqueiro. O Poelvoorde já esteve no meu primeiro filme, para mim é um génio absoluto que sabe interpretar tudo e destaca-se em papéis malvados. A Leïla Bekhti, na vida, quando a conheci, vi que tinha uma autoridade natural que nunca fora explorada no cinema. Ela era ideal para incorporar o rigor do desporto, a Virginie [Efira], a filosofia. Quanto ao Guillaume, temi que a personagem o assustasse porque talvez fosse a menos compreensiva, mas ele tinha a inteligência para ver a sua beleza e os seus defeitos. Costumamos falar sobre a minha amizade com o Guillaume, mas também temos um relacionamento de trabalho. Além disso, eu não queria filmar com o meu grupo de amigos. Passado um tempo, pode ser muito inibidor.

As comparações com The Full Mounty (Tudo Ou Nada)

“Nunca vi o filme na íntegra! E não quis ver quando as pessoas começaram a falar comigo sobre isso. (…) Para o Ou Nadas Ou Afundas, não assisti a nenhum filme, preferi me libertar de todas as referências (…)”

A Música

“Olhei muito para os anos 80 porque as minhas personagens vieram de lá, os Tears for fears, o Phil Collins, os Imagination … e então o meu sonho se tornou realidade quando o Jon Brion, de quem sou fã, concordou em compor a música do filme. O seu trabalho contribui muito para mostrar a melancolia das personagens.”