Terça-feira, 16 Abril

Os Produtores – Ep 12: Homens que Matam Vacas só com o Olhar

Jon Hamm – Mais um ano terminava, mais um Natal se passava. Era tempo de celebrar a Passagem, finalmente sem calor, mas agora com uma aragem. Todos se juntam para celebrar com o fogo de artifício e com carinho recordar que em breve voltam ao ofício. Em Lisboa, tinha de ser no Terreiro a Passagem, havendo até quem viesse da outra margem. E o frio era tanto nas Caldas da Rainha que já ninguém tinha tomates, apenas grainha. Mas era no meio da Serra da Estrela, onde o pobre Produtor salinava a entrada do seu lar, não fosse ele mais tarde passar e escorregar. Sentia-se sozinho no meio da neve, como quem paga o passe para os comboios fazerem greve.

Ao longe, porém, avistava um veículo a aproximar. Fosse a EDP ou a EPAL, o melhor mesmo era entrar.

Quem seria o sujeito, de bom porte e vulto negro? Para quê tanto crachá, se não para meter medo?

Sai a enorme sombra da sua carripana e parte em direção ao homem da cabana.

Homem misterioso- Bons olhos o mirem, Senhor Produtor! Será que me dá a honra de lhe pedir um favor?

O Produtor- Sim.

Homem Misterioso- ….

O Produtor- ….

Homem Misterioso- huuum

O Produtor- ….

Homem Misterioso- Não vai rimar?

O Produtor- Não.

Homem Misterioso- Não partilha muito do espírito Disney pois não?

O Produtor- O que quer de mim?

Homem Misterioso- Sabe, eu estava de passagem aqui pela Serra e vim conhecer a pasteurização local. Saboreei queijos feitos só por quem sabe, e agora venerava um tradicional púcaro com um leite morno gentilmente fornecido por um gado livre. Posso entrar para provar aquele que, segundo ouço, é o melhor leite da Serra?

O Produtor- Tenho escolha?

Homem Misterioso- Omessa, a casa é sua!

O Produtor fica a olhar para o Homem, até decidir convidá-lo a entrar. O Homem Misterioso raspa as botas no tapete áspero e tira o chapéu, acompanhando o Produtor que já seguia caminho para a cozinha. A cozinha era aberta para a sala o que facilita as filmagens e torna tudo mais dinâmico porque ninguém gosta de planos na cozinha a não ser em curtas metragens ou cozinhas de brancos privilegiados.

Homem Misterioso- Tem aqui uma bela casa!

O Produtor- Nunca ouvi um convidado entrar numa casa e dizer que era horrível.

Homem Misterioso- Ah, ah! De facto. Por norma quando assim é remetem-se ao silêncio. É claro que o silêncio não desenvolve nada, não é verdade? Permite-me que me sente? A viagem foi longa. Agradável, mas longa.

O Produtor- Esteja como na sua casa.

Homem Misterioso- Era bom, sim.

O Produtor mete um púcaro à frente do Homem e serve o leite.

Homem Misterioso- Obrigado pela gentileza.

O Produtor vai buscar um cigarro eletrónico e senta-se à mesa com o Homem, ligando-o

Homem Misterioso- Ah! Este leite realmente faz jus à lenda local. Uma maravilha.

O Produtor não se sente agradecido, sabendo já que o seu leite é incrível

Homem Misterioso – Ocorreu-me que eu possa ainda não ter-me apresentado, e por isso peço desde já as minhas sinceras desculpas. O meu nome é Pateta.

O Produtor- Não se preocupe, eu não gozo.

Pateta- Com o quê?

O Produtor- Com o seu nome.

Pateta- O que tem o meu nome?

O Produtor- Disse que era Pateta.

Pateta- E é.

O Produtor- Está bem.

Pateta – Diga-me Sr. Produtor, sabe porque é que estou aqui?

O Produtor- Ouvi umas coisas…

Pateta-  O que ouviu?

O Produtor- Que o Fuhr..que o Mickey..Mouse, o enviou para uns.. acertos de contas.

Pateta- O Dr. Mouse não diria melhor. Venho efetivamente de Paris a pedido do Dr. Mouse para propor uma oferta.

O Produtor- Eu já duvidava que tivesse vindo para a Serra da Estrela apenas pelo meu leite.

Pateta- Permita-me a divergência mas não posso deixar que subestime o seu leite, Sr. Produtor. Nós na Disney valorizamos muito a produção de lacticínios. Estamos até bastante orgulhosos das nossas pastagens e toda a industrialização está a correr melhor do que esperávamos.

O Produtor- Hm.

Pateta- Não o convenço?

O Produtor- De quê?

Pateta- … Bom, falando mais diretamente de negócios, o Sr. Produtor imagina certamente o interesse que a Disney tem em adquirir o seu leite.

O Produtor- Não estou interessado.

Pateta- Claro que não está. Um bom Homem de negócios não estaria de mão aberta a fornecer os seus bens. É algo que consigo respeitar numa pessoa. Mas permita-me a ousadia, o Sr. Produtor já ouviu falar da Sony?

O Produtor- *enquanto suga o cigarro eletrónico* Em tempos uma marca de sucesso. Hoje só exportam coalho.

Pateta- Precisamente! Exceto que nesse coalho existia uma vaca que dava um dos leites mais preciosos na década de 2000.

O Produtor- Homem-Aranha.

Pateta- Bingo! A Sony teve um sucesso invejável na década passada com a vaca Homem-Aranha e nós, na Disney, quisemos explorar o potencial naquela espécie. O nosso sucesso, como certamente está a par, é colossal graças ao leite do agrupamento bovino Avengers e a Sony viu o potencial. Tentaram fazer um novo leite, dito apropriado para uma nova geração e até o apelidaram de ‘Fantástico’, ou ‘Amazing’ para a exportação internacional. A ideia era expandir uma nova gama de leite para todas as necessidades. Infelizmente, não para as necessidades do povo. Portanto, agora era a Sony que nos copiava o leite e, digamos, não correu bem. Não podemos saturar as prateleiras do supermercado. Mas vendo o potencial magnífico, e por amor à arte de extrair leite, propusemos uma oferta irrecusável para a Sony nos deixar ao cuidado das tetas do Homem-Aranha e permitir-nos fazer leite para adultos, enquanto que eles trabalham agora numa gama de leite escolar.

O Produtor- A ordem é discutível.

Pateta- Perdão?

O Produtor- Bem sei que eles não tinham solução. Especialmente depois do desastre que foi a vaca do Ghostbusters. Provei numa feira artesanal e não souberam refrigerar aquilo. Sabia a baba de camelo, e não me refiro ao doce.

Pateta- Entende então o nosso receio. Basta um leite estragado para criar pânico e arruinar o negócio todo.

O Produtor- Mas a Fox deu-se bem.

Pateta- Não depois do X-Men: Apocalipse. E o Alien Convenant não foi a lado nenhum, adormecendo novamente a marca. E quanto menos falarmos dos iogurtes Fant4stic,…bem…

O Produtor- Deadpool.

Pateta- Ah, sim. Um suissinho do caraças!

O Produtor- É por isso que os compraram.

Pateta- A Fox tem bastante reconhecimento e umas ações apelativas. Vejamos só o que possuem no minimercado Hulu. Já para não falar de..-

O Produtor- Mas porquê agora?

Pateta- Porquê depois?

O Produtor- Porque depois de Deadpool e Logan receiam que haja mais um concorrente de peso.

Pateta- Concorrente? Não. Deadpool certamente faz dinheiro, sim, mas para onde vão com o Dark Phoenix? E o Fantastic Four? Aliás, só para ficarmos com os Fantastic Four a Fox praticamente pagou-nos, já era mais despesa do que fazia sentido. E é aqui que eu quero chegar. Tanto a Fox como a Sony vieram ao nosso colo, um mais cedo, outro mais tarde.

O Produtor- E isso é-me relevante porque?..

Pateta volta a beber um trago

Pateta- Este leite é incrível, mas… Não é o que está a ser vendido pois não?

O Produtor fica calado

Pateta- Como anda o trabalho na fábrica? Se me permite, claro.

O Produtor- A crise toca a todos. Mas andamos em frente.

Pateta- Sim. Certo. A década de 2000 foi incrível para vocês… Mas a partir de 2012, nunca mais foi o mesmo.

O Produtor- Como eu disse, crise.

Pateta- Mas não financeira.

O Produtor- Onde quer cheg-..

Pateta- Uma peça de fruta que esteja podre por fora, corta-se e aproveita-se. Mas quando está podre por dentro, só resta dar aos porcos. Por outras palavras, existe uma tremenda falta de organização na vossa empresa. Têm as receitas, os ingredientes, talvez até mais do que nós na Disney no que toca aos super-leites, e ainda assim não sabem dar o devido valor às vossas propriedades. Isso, Sr. Warner, entristece-me. Tentar apanhar os sucessos antigos com o Hobbit e o Fantastic Beasts… Estamos só a escorrer vacas envelhecidas que merecem um descanso em paz antes que produzam leite em pó.

O Produtor- Engraçado. Isso faz-me lembrar um leite com sabres de luz no pacote.

Pateta- Não queira comparar a nossa gama de elite..

O Produtor- Solo? Elite?

Pateta- Temos produtos sazonais..

O Produtor- Sim, da Silly Season..

Pateta termina o leite, o que surpreendentemente demorou 2h45 a beber, sem contar com os créditos

Pateta- Sr. Produtor, já ouviu falar do nome que vos dão lá fora?

O Produtor- Não tenho interesse nessas coisas.

Pateta- Mas já ouviu falar..?

O Produtor- Sim.

Pateta- Por favor, diga-me o que ouviu.

O Produtor- Que nos chamam de Sony Bros.

Pateta- Precisamente. Eu entendo a falta de vontade em responder. A campanha do Dr. Donald parece concordar mas onde a nossa opinião difere é que eu não considero isso um insulto.

O Produtor- …

Pateta- Está bem, é um insulto. Mas Sr. Produtor, a razão pela qual o Dr. Mouse me tirou dos Alpes da Áustria para a Serra das vacas foi porque… ocorre-me… porque eu sei o que os produtores fazem quando abandonam a dignidade… Permite-me que eu fume o meu cachimbo?

O Produtor acena levemente a cabeça, sentindo-se desconfortável com o que ouve

Pateta- Ora … *enquanto acende o cachimbo*… o meu trabalho dita … que eu tenho de lhe comprar as ações… para adquirir…. a DC Comics… ou deixar o Pluto entrar e mijar-lhe na alcatifa, e acredite, assim será.. *desistindo do cachimbo porque já ninguém sabe trabalhar com aquilo, mas segurando-o para manter a posição imponente*.. a menos que me dê algo de valor que possa justificar o meu regresso aos Alpes mais cedo. Devo acrescentar que dar-me algo de interesse para o meu trabalho e, consequentemente, para o Dr. Mouse, não lhe provocará danos no Box Office quando estrear o Aquaman. Pelo contrário, iremos afastar-nos e deixar-lhe o mês livre.

O Produtor está sem resposta

Pateta- Sequestrou o George Miller não foi?

O Produtor deixa cair uma lágrima fria pelo rosto

O Produtor- Sim…

Pateta- Está a escondê-lo debaixo do chão, não está?

O Produtor-…. Sim….

Pateta- Aponte-me para o alçapão.

*O Produtor aponta o cigarro eletrónico para uma cómoda com livros do Tendinha e uma cópia do Spaced, revelando assim esconder a porta para a cave*

Pateta- Visto eu não ouvir barulho, presumo que o Sr. Miller esteja amarrado?

O Produtor volta a acenar, tentando esconder as lágrimas com a mão livre

O Pateta afasta a cómoda, abre o alçapão e entra na cave com uma lanterna na mão. No entanto, não é necessário ligar, uma vez que vê um feixe de luz a entrar na cave por um buraco onde passa um homem com talento. O Pateta encontra um papel ao lado de algemas quebradas, onde se lê:

Testemunhem-me!

O Pateta enfrenta a luz e vê um velhinho a correr, tão livre como distante.

Pateta- *gritando* ADEUS, GUERREIRO DA ESTRADA!

****

Owen Wilson- Não percebo.

Jon Hamm- O quê?

Owen Wilson- Se o Miller escapou, como é que ele acabou por fazer o ‘Avengers 7: Sequelas do Infinito‘?

Jon Hamm sorri, enquanto acaba de colocar um ovo frito numa tosta mista

Jon Hamm- A Disney foi mais esperta que a Warner. Eles sabiam que não era a apanhá-lo e obrigá-lo a fazer o que fosse que conseguiriam o que queriam. O George Miller faz o que bem lhe apetece. Mas conquista-se sempre um homem pela fome, ou assim o dizem.

Jon Hamm serve a tosta a Owen Wilson, depois de polvilhar um pouco de pimenta e orégãos sobre a gema

Jon Hamm- A Warner puxou pelo George Miller tanto quanto puderam e sempre foi assim uma relação de amor-ódio. Até o convenceram a fazer um Justice League mas cancelaram o projeto por parecer algo demasiado interessante. Mas a Disney sabia que havia algo que o George Miller queria mais do que tudo.

Owen Wilson- *de boca cheia* Mad Max?

Jon Hamm- Mad Max.

Owen Wilson- A Disney fez-lhe chantagem…

Jon Hamm- Simplesmente deram-lhe o que ele queria, em troca de um Avengers. Não lhes saiu barato, mas numa altura em que os bancos pedem empréstimos à Disney, o risco era inexistente. E esta é a história de como a Warner acabou como uma editora de livros e como o George Miller acabou por fazer o Mad Max 5 aos 93 anos.

Owen Wilson- Wow

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