- C7nema.net - https://c7nema.net -

Julia Roberts regressa em “Homecoming”, mas isso não é o melhor da série do criador de “Mr. Robot”

Sam Esmail, o responsável pelo Mr. Robot tem um novo projeto, Homecoming, e com ele traz da sua anterior série a paranóia, os interesses económicos e políticos e a forma como os indivíduos são manipulados pelas grandes corporações. Baseado num podcast homónimo de ficção estreado em 2016 e feito por Micah Bloomberg e Eli Horowitz, Esmail assina a realização dos dez episódios de 30 minutos cada – que já se encontram disponíveis online via a Amazon.

O pano de fundo desta série são os veteranos de combate que sofrem de stress pós traumático ou cuja readaptação à vida normal após o serviço militar necessita de apoio. É aí que entra Julia Roberts, no papel de Heidi Bergman, uma assistente social que ajuda os soldados a voltarem para a vida civil. Walter Cruz (Stephan James) é um desses soldados, ansioso para começar a próxima fase da sua vida. A supervisionar Heidi está Colin Belfast (Bobby Cannavale), um homem de negócios ambicioso cujas exigências apontam para motivos questionáveis e revelam que por trás dessa “ajuda” a veteranos existe um interesse político, económico e militar concreto.

 

Influências, medos e paranóias

 

A navegar entre o passado (2018) e o presente (2022), Homecoming funciona como uma thriller imersivo que ganha o seu fôlego quando um mero auditor do Departamento de Defesa (Shea Whigham) começa a investigar no presente uma queixa anónima que aponta que Walter Cruz esteve retido contra a sua vontade naquela instituição em 2018. Em entrevista ao The Hollywood Reporter, Esmail fala de influências do cinema de Hitchcock, Brian De Palma e Alan J Pakula, diretor com quem Julia Roberts trabalhou em Dossier Pelicano.


Esmail e Roberts

A era que vivemos, os medos contemporâneos, também serviram de inspiração para Homecoming: “Acho que ela é completamente influenciada pelos tempos [que vivemos]. Também digo isso sobre o Sr. Robô – não é necessariamente uma coisa consciente, mas talvez eu atribua à rápida ascensão da tecnologia, porque ela cresceu exponencialmente a uma taxa muito mais rápida do que esperávamos. Junto com isso, aumenta a paranóia sobre as questões de privacidade que estão realmente na vanguarda dos direitos humanos: quanta vigilância deve haver, quanta energia nós damos ao nosso governo, como o efeito psicológico das redes sociais permitiu que essas empresas aprendessem e entender quem somos, às vezes sem o nosso conhecimento. Há uma paranóia que é palpável agora, e acho que o baile realmente toca esse nervo.“, disse Esmail ao THR

Um elenco em boa forma

Antes de falarmos da eterna “Pretty Woman” há que falar de Bobby Cannavale e Shea Whigham (na imagem acima). O primeiro é um chefe numa grande corporação cujas verdadeiras intenções vão sendo demonstradas aos poucos. Já o segundo é o auditor que vai lançar toda a investigação. Arraia miúda num sistema burocrático, Whigham usa a contenção e a estranheza com todo o caso para dar nas vistas (é brilhante), funcionando igualmente como um reflexo da velha história de David contra Golias. Algumas das melhores sequências de estranheza e confrontação surgem quando Whigham e Cannavale atuam frente a frente, revelando o fosso moral existente entre eles.

Já a personagem de Roberts tem os seus melhores momentos na sua relação com Stephan James. A ligação dos dois vai além da assistente social-veterano, mas não cai na relação amorosa “repleta de sacarina” ou romantizada, tão ao estilo de muita da sua cinematografia. Na verdade, aos poucos vamos descobrindo que ambos têm mais em comum do que imaginam, revelada na estrutura anacrónica em que em 2018 Julia é assistente social e em 2022 uma servente num restaurante.

Uma nota para o pequeno papel, mas cheio de carisma, de Sissy Spacek (a eterna Carrie), como a mãe de Roberts.

A importância da música

Para mim, é o coração e a alma de um filme ou de uma série, porque é a maneira mais fácil de expressar o tom, e há algo puramente etéreo e emocional sobre isso.“, Esmail não tem dúvidas. A escolha da música é extremamente importante para qualquer projeto. Neste, o seu estudo passou novamente pelo cinema de Hitchcock, De Palma e Pakula, até porque “a música neles é tão distinta“.

Temas de compositores como Pino Donaggio, Bernard Herrmann, John Williams e John Carpenter eram assim alvos. Por momentos chegou a pensar em contratar um compositor e pedir-lhe para essencialmente imitar o som clássico dos anos 60 ou 70. Foi então que tomou-se a decisão de não ter um compositor, mas aproveitar as partituras clássicas dos thrillers da velha escola, como de Carrie de De Palma, Klute de Pakula, Vertigo de Hitchcock e até Escape from New York de John Carpenter.

Aqui fica a lista de todos os temas musicais usados na banda-sonora:

Episódio 1
“Dressed to Kill”, composto por Pino Donaggio
“All The President’s Men”, composto por David Shire
“Marathon Man”, composto por Michael Small
“Vertigo”, composto por Bernard Herrmann

Episódio 2
“Klute”, composto por Michael Small
“Duel”, composto por Billy Goldenberg
“The Gift”, composto por s Daniel Bensi & Saunder Jurriaans

Episódio 3
“Capricorn One”, composto por Jerry Goldsmith
“The Andromeda Strain”, composto por Gil Mellé
“The Car”, composto por Leonard Rosenman
“Chariots of Fire”, composto por Vangelis
“Gray Lady Down”, composto por Jerry Fielding
“Star Chamber”, composto por Michael Small

Episódio 4
“The Amityville Horror”, composto por Lalo Schifrin
“The Day The Earth Stood Still”, composto por Bernard Herrmann
“The Hand”, composto por James Horner
“Carrie”, composto por Pino Donaggio
“The Andromeda Strain”, composto por Gil Mellé
“L’Apocalypse des animaux”, composto por Vangelis
“All The President’s Men”, composto por David Shire

Episódio 5
“Body Double”, composto por Pino Donaggio
“The Taking of Pelham 123”, composto por David Shire
“The Conversation”, composto por David Shire
“Escape from New York”, composto por John Carpenter & Alan Howarth
“The Thing”, composto por Ennio Morricone
“Narrow Margin”, composto por Bruce Broughton
“The French Connection”, composto por Don Ellis

Episódio 6
“High-Rise”, composto por Clint Mansell
“Scanners”, composto por Howard Shore
“The List of Adrian Messenger”, composto por Jerry Goldsmith
“Copycat”, composto por Christopher Young
“Creation”, composto por Christopher Young
“Three Days of the Condor”, composto por Dave Grusin

Episódio 7
“Gray Lady Down”, composto por Jerry Fielding
“The Thing”, composto por Ennio Morricone
“The Andromeda Strain” (TV Series), composer Joel J. Richard
“Christine”, composto por John Carpenter & Alan Howarth
“The Parallax View”, composto por Michael Small
“The Thing”, composto por Ennio Morricone
“The Fog”, composto por John Carpenter
“Halloween 3”, composto por John Carpenter & Alan Howarth

Episódio 8
“The Conversation”, composto por David Shire
“Christine”, composto por John Carpenter & Alan Howarth
“Halloween 3”, composto por John Carpenter & Alan Howarth
“Altered States”, composto por John Corigliano
“The Andromeda Strain”, composto por Gil Mellé
“The Fog”, composto por John Carpenter

Episódio 9
“Body Heat”, composto por John Barry
“Dove Siete? Io Sono Qui”, composto por Pino Donaggio
“Raising Cain”, composto por Pino Donaggio
“Legend”, composto por Tangerine Dream
“Oblivion”, composto por Anthony Gonzalez & Joseph Trapanese
“All The President’s Men”, composto por Michael Small
“The Eiger Sanction”, composto por John Williams

Episódio 10
“The Dead Zone”, composto por Michael Kamen
“The Andromeda Strain”, composto por Gil Mellé
“Opéra sauvage”, composto por Vangelis