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Novo filme de Pedro Costa em 2018

Cabo-Verde continua presente no coração de Pedro Costa, e é nestas constantes transações entre o continente e o arquipélago que se assume a tour-de-force da sua filmografia presente. Tudo começou em 1994 com as rodagens de Casa da Lava [1] na Ilha do Fogo, uma história de fantasmas e hereditariedade, que não foi de toda bem-sucedida, nem sequer do agrado do realizador. Contudo, foi aí que nasceu uma nova face, não na conceção do filme em si, mas no desencadeamento deste trabalho de produção. Costa comprometeu-se a entregar a correspondência confiada pelos habitantes da ilha, com remitência aos familiares que residem em Lisboa. Esta promessa, levado a cabo pelo realizador, serviu como corpus de estudo para o trabalho de uma nova obra – Ossos [2] (1998) – onde registou um apetite etnográfico que se vai bravando gradualmente no seu conceito de ficção.

O abandono foi total com No Quarto da Vanda (2000), queda do Bairro das Fontainhas (Amadora) documentada com tamanha intimidade e carinho por estas “personagens” marginais, reclusos sociais que recusavam deixar as suas vidas pré-fabricadas na lata. Vanda Duarte, que integrou o anterior Ossos, agora é a anfitriã num apocalíptico desabar de um ecossistema. O filme iria desfechar com o prometido titulo, a entrada desse compartimento, o apogeu máximo da intimidade da câmara do realizador com a figura filmada.

Se o Bairro das Fontainhas, extinto e apenas vivo na memória de quem lá passou, continha uma enorme massa cultural cabo-verdiana, “plantada” e germinada, em Juventude em Marcha (2006), Pedro Costa focaria os fantasmas deixados por esses recém-convertidos não-lugares. Aí, Vanda seria substituída por outro habitante, Ventura, que adquiria uma aura trágica, mantida nos capítulos seguintes.

Cavalo Dinheiro [3] (2014), uma espécie de prolongação do elevador “assombrado” ilustrado no objeto coletivo Centro Histórico, marcaria outro estagio fílmico em Pedro Costa, o espirito etnográfico em conformidade com o regresso ao cinema de estúdio, ao artificialismo que diluia com os eufemismos místicos de uma Cabo-Verde distante, mas nunca ausente.

Assim sendo, em Vitalina Varela, o próximo filme do realizador, chegaremos a um esperado retorno ao país que acompanhou este Cinema. Mais uma vez, Pedro Costa pega em num dos seus habitantes e aponta-lhe os holofotes. Vitalina é essa “nova” protagonista, uma face reconhecida neste universo que emancipa-se para o seu próprio conto. Esse, a cumprida espera de 25 anos pelo seu bilhete de volta a Cabo-Verde e a chegada três dias depois do funeral do seu marido.

Produzido pela OPTEC, pequena produtora que nos “entregou” ano passado o conto jovial e rebelde de Verão Danado [4], Vitalina Varela tem estreia prevista para este ano, devendo estrear num festival de cinema de renome. Deste lado, aposta-se a Locarno, ou quem sabe, a Quinzena dos Realizadores de Cannes.