Quinta-feira, 28 Março

Precisamos de falar sobre a professora

1983, Bratislava, antiga Checoslováquia. Uma professora, os alunos e os pais, uma relação de poder.

Uma queixa deixa em alerta a diretora da escola, que decide convocar os encarregados de educação para uma reunião. Começa aí pela boca destes a construção da figura da tal professora, Mária Drazdechová (sublime Zuzana Mauréry), não é ela que nos conta, mas sim a visão dos pais, pela sua boca, que nos vai dando a vislumbrar a mulher, quem diz dos pais, inclui os filhos.
Qualquer semelhança com a realidade não será portanto pura coincidência. Aquela que na primeira aula pede que os alunos se levantem digam o nome e qual a profissão dos pais.

Presente no festival de Gijón, The Teacher é uma comédia de costumes que retrata a vida de uma professora que usa o poder para obter favores pessoais dos alunos e por extensão dos pais, e que, em última instância provoca uma pequena revolução, no equilíbrio ténue que existe entre poder e moral. Já Stanley Milgram nas suas experiências levadas a cabo nos anos 60 do século passado, chegou à conclusão que o ser humano tipicamente obedece a pessoas em situação de poder, sem questionar. A experiência de Milgram foi retratada no filme Experimenter com Winona Ryder (deliciosa recriação da vida e percurso profissional do psicólogo americano que incidiu a sua investigação em particular sobre os assassinos perpetuados na 2ª Guerra Mundial pelos nazis e a sua aparente subjugação ao poder como figura autoritária, sem questionar motivos nem consequências.

Na experiência de Milgram foram apenas testados homens e provou-se que havia correlação entre poder e obediência. Em The Teacher esse poder é uma mulher. Um filme interessante, atual, uma visão mordaz sobre as hierárquia de poder instituído socialmente, mas também o diz que disse, a intriga, e aquela forma de estar em sociedade que funciona aparentemente desde sempre, e que diz tanto de nós como animais de hábitos. Um exercício de cinema que consegue o feito raro de nos fazer pensar sobre nós a nossa relação com os outros e com a responsabilização e confrontação do poder, os bons os maus, o moralmente reprovável mas também o moralmente instituído.

 

 

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