Terça-feira, 19 Março

A celebração da Europa: era uma vez um festival… em Sevilha

Na cidade andaluza as bandeiras espanholas estão por todo o lado. Há edifícios onde chegam a ocupar todas as varandas. A crise da Catalunha despertou o reforço de uma ideia de nação. O Festival de Cinema de Sevilha trabalha sobre uma ideia de Europa. A palavra ouve-se muitas vezes nos discursos oficiais. Certamente há o detalhe pragmático do anúncio dos filmes para o European Awards, mas há mais: o local escolhido para o seu anúncio tem uma vista para o Guadalqivir. Assim, o festival comunica-se com uma ideia visual de Europa – com suas pontes, catedrais, monumentos.

Em conversa com um dos programadores do festival, Luís E. Pares (entrevista completa aqui), fala-se desta ideia de Europa, de unidade, num momento onde os grupos de individualismo e xenofobia ganham mais força. Ele resume: “A Espanha é a Europa em grande. É um país muito diverso, com muitas culturas, diferentes línguas, mas fazemos todos parte da mesma comunidade. Essa é a ideia de Europa, a unidade dentro da diversidade. A Europa inventou a ideia de vasos comunicantes, somos o Velho Continente que se lançou a América, Ásia, África. Por que Pedro Almodóvar faz um filme na selva argentina? Por que viajamos, vamos e voltamos”.

Os portugueses deram uma contribuição para a celebração fílmica comunitária. Reis Y Cordeiro, como um slogan publicitário, distribuía-se pelos posters e materiais. António Reis e Margarida Cordeiro tiveram as suas primeiras retrospetivas completas em solo espanhol. Obras de Paulo Rocha (“Mudar de Vida”), Manoel de Oliveira (“Acto de Primavera”), Pedro Costa ou o recente “Farpões, Baldios” (Marta Mateus) completaram a mostra. Foram acompanhados de obras contemporâneas – o novíssimo “Ramiro” (Manuel Mozos), o consagrado “A Fábrica do Nada” (Pedro Pinho), ambos em competição, mais “Colo” (Teresa Villaverde), “Tarrafal” (Pedro Neves), “O Ornitólogo” (João Pedro Rodrigues) e “Os Humores Artificiais” (Gabriel Arantes) distribuídos em seções paralelas.

Exibir e resistir. As “idas e vindas” cinematográficas trouxeram muito do melhor cinema europeu. Algumas destas obras estarão brevemente em Portugal no Lisbon & Sintra Film Festival: “Barbara” (Matthieu Amalric), “A Ciambra” (Jonas Carpignano), Les Gardiennes (Xavier Beauvois), “Western” (Valeska Grisebach), “The Square” (Ruben Ostlund).Também passa pela programação os novos trabalhos de Laurent Cantet (“The Workshop”), Claire Denis (“Let the Sunshine In”), “Winter Brothers” (Hlinur Pálmason, o grande vencedor de Locarno), “Happy End” (Michael Haneke), “Loveless” (Andrey Zvyagintsev), “The Killing of a Sacred Deer” (Yorgos Lanthimos) e “Zama”, da argentina Lucrecia Martel, entre muitos outros.

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