Terça-feira, 16 Abril

7×7: 7 personalidades, 7 filmes para o Dia das Bruxas

 

O 6×6 transformou-se este ano em 7×7, uma rubrica do c7nema onde incentivamos personalidades ligadas ao Cinema a sugerirem aos nossos leitores um filme dedicado a determinado tema. Mais uma vez, com o Dia das Bruxas/Halloween aí, aqui fica uma nova antologia de opiniões dedicada ao evento.

E depois de em 2016 termos optado por uma seleção profundamente internacional, com sugestões de Kurando Mitsutake (realizador), Gigi Saul Guerrero (realizadora), Pollyanna McIntosh (atriz), Rodrigo Gudiño (realizador e editor da revista Rue de Morgue), Patrick Rea (realizador) e Marcelo Milici (editor do site brasileiro Boca do Inferno), em 2017 o nosso foco foi uma escolha mais orientada para a língua portuguesa.

Assim contamos com contribuições dos jornalistas e críticos de cinema João Antunes (Jornal de Notícias), Luis Miguel Oliveira (Público), Rodrigo Fonseca (Omelete), dos responsáveis por Festivais de Cinema, João Monteiro (MOTELX) e Mário Dorminsky (Fantasporto), do realizador José Pedro Lopes e da atriz Daniela Love, duo ligado ao último filme português de terror que estreou nas salas nacionais: A Floresta das Almas Perdidas. 

Aqui ficam as suas escolhas:

Targets (1968)

Para Luís Miguel Oliveira, crítico do jornal Público e programador da Cinemateca, a escolha recaiu no filme de Peter Bogdanovich: «Dizia o Breton que o Cato surrealista mais simples consistia em disparar ao acaso sobre a multidão. O filme do Bogdanovich é inteiramente construído sobre esta premissa – não sendo inocente que ‘a multidão’, aqui, sejam essencialmente os espectadores de cinema. O que é que isto tem a ver com o Halloween? Eu acho que tem tudo. Até porque o que o filme mostra é que, como o Natal, o Halloween é quando o homem quiser».

Eraserhead (1977)

Para a atriz Daniela Love, a escolha foi o clássico de David Lynch: «O Eraserhead do David Lynch, apesar de não ser terror convencional é dos filmes mais perturbadores que me lembro de ver. Óptimo para quem quiser um filme lento, para processar mais tarde, em pesadelos surrealistas.»

Halloween (1978)

Para João Antunes, crítico do JN e autor dos livros À Conversa com Os Senhores dos Anéis e MOTELx:10 anos, a escolha recaiu num clássico de John Carpenter: «Quando John Carpenter realizou em 1978 o seu Halloween, tinha seguramente dois grandes objetivos: celebrar a data, tornando-a protagonista de um filme que rapidamente se transformou em culto, e causar uns valentes sustos nos espectadores. Como quase quarenta anos depois isso ainda acontece e não há “palhaçada” nenhuma que o destrone, deixemo-nos de invenções. Halloween é o melhor filme sobre e para o Halloween. Em vez de andar para aí mascarado/a ou a distribuir rebuçados, meta-se na sala escura a ver este filme, se tiver coragem!»

The Fog (1981)

Para Mário Dorminsky, fundador do Fantasporto, a escolha incidiu noutro clássico de Carpenter: «Dos cinemas a que mais gostava de ir era o Olimpia. Sinceramente não sei porquê. Era estilo Carlos Alberto no tempo das suas sessões duplas, tinha um ambiente próprio, só que denominado de “cinema de estreia”. O écran era de cor branco sujo, a caminho do cinzento (!) mas o ambiente, particularmente no pequeno balcão que tinha, fazia concorrência, ao esse sim famoso balcão do Águia d’Ouro, sobretudo durante as (poucas) sessões “de terror” realizadas à meia noite em meados dos anos 80. Estava sozinho, admito que em novembro de 1981, quando no Olimpia fui ver o THE FOG do John Carpenter. Se a projeção era assustadora, o escuro das imagens era ainda maior. Qualquer som estranho fazia-me saltar na cadeira, em particular o atirar das latas das bobines de 35mm para o chão da cabine! Bem, a sério, Nevoeiro é dos filmes que mais medo me meteu na vida. A genialidade de Carpenter joga com o espectador, criando continuamente momentos de potencial suspense nos quais nada acontece, surgindo esses, segundos depois, quando já estamos relaxados. Fabuloso. “Mete medo ao susto”…»

Halloween III: Season of the Witch (1982)

Segundo José Pedro Lopes, realizador e crítico do C7nema, «o terceiro filme da saga Halloween foi se tornando ao longo dos anos um dos filmes favoritos para a época. Sem o assassino mascarado Michael Myers, mas sim um enredo de mistério em torno de um fabricante de máscaras de Halloween, androides assassinos e um Menir Celta que pode levar ao fim do mundo. Cheio de espírito místico, com o “feeling” Carpenter na mesma e um dos finais mais obscuros de um filme de Hollywood de sempre.»

Angel Heart (1987)

Para Rodrigo Fonseca, roteirista na TV Globo e repórter do Omelete (o maior site pop do Brasil), nunca haverá experiência de horror mais soturna do que a de Angel Heart, de Alan Parker: «Travessura alguma de Halloween há de se comparar com a diabrura feita pelo senhor Louis Cypher (Robet De Niro) com o detetive Johnny Liebeling (um Mickey Rourke no auge da forma). Parker junta noir, macumba, blues e suor para fazer um ensaio sombrio sobre o pecado da vaidade».

Get Out (2017)

Para João Monteiro, fundador do MOTELx e realizador, o filme selecionado é um dos filmes sensação de 2017: «Não deixa de ser curioso que no ano em que o Terror perde o homem que transformou o género em arma de arremesso político, surja um filme que tão bem reivindique essa herança. George Romero foi o primeiro cineasta de terror a testemunhar a condição do afro-americano no grande ecrã no clássico A Noite dos Mortos-Vivos, e agora Jordan Peele, é o primeiro afro-americano que, através de um filme de terror, testemunha a hipocrisia deste clima “pós-racial”, após 8 anos de Obama na Casa Branca. Este meter o dedo na ferida, sem absolutamente pudor algum, faz deste Get Out não só um bom filme de terror, que recupera o olhar incisivo do romancista Ira Levin (Rosemary’s Baby, The Stepford Wives), mas trata-se essencialmente de um filme importante e urgente para se compreender o agora em que vivemos.»

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