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«La Maschera del Demonio»: o travestido terror de Mario Bava

You will never escape my vengeance, or of Satan’s! My revenge will seek you out, and with the blood of your sons, and of their sons, and their sons, I will continue to live forever! They will restore me to life you now rob from me!”

Na primeira longa-metragem que Mario Bava concretiza a solo, após uma colaboração com cinco obras cinematográficas como co-realizador e diretor de fotografia (nomeadamente os êxitos das variações de Hércules e outros “sand & sandails”), já se fazia antever que o autor iria tornar-se numa influência do horror pós-60 ou da cinematografia italiana em geral. Longe do cognome do “pai do giallo” (esse subgénero profundamente italiano, mas com inspiração nos antecessores thrillers de Hollywood), Bava investe num cenário digno do terror formal da Universal Classic, evidentemente encontrado em Drácula de Tod Browning ou até mesmo em Frankenstein de James Whale. Contudo, é sentido um teor divergente dessas mesmas, uma alegoria trash e da valorização da pureza estética.

Em La Maschera del Demonio (com titulo internacional de Black Sunday e traduzido de A Máscara do Demónio), somos levados ao sabor de um conto gótico confortavelmente residente dos tempos da inquisição, bruxaria e vampirismo, onde dois médicos estrangeiros atravessam um negro canto da Romênia, terra atormentada por lendas, maldições e fantasmas, e que eles próprios envolvem-se perante situações bizarras longe do simplismo supersticioso. Por um lado, eis o eterno medo do remoto, do afastamento da civilização e do paganismo.

Mas La Maschera del Demonio é mais que uma catarse freudiana desses preconceitos religiosos que o cinema ocidental tende em incutir, aqui somos envolvidos por um trabalho excecional de Mario Bava em erguer os cenários góticos e quase “carnavalescos” e no visual do filme que, mesmo ostentando o preto-e-branco, nos incute uma sugestão de coloração viva e berrante. Uma sensação similar que se pode extrair na visualização de outro clássico, O Gabinete do Doutor Caligari (Das Kabinet des Doktor Caligari) de Robert Wiene, no qual poderemos também alguns depósitos no argumento-quimera de La Maschera del Demonio.

Sim, La Maschera del Demonio resulta numa obra excêntrica, relembrada pelos seus requisitos técnicos e estilísticos, mesmo sabendo que as interpretações são por vezes ditadas por um overacting risível e um guião, sem muito por onde eduzir, constantemente confrontando as suas musas ocasionais. O filme também é contagiado por uma tendência de mais “olhos que barriga” (baseado no russo Vij, um conto de Nikolaj Gogol). Tais fatores são atenuadores da eventual seriedade que o filme poderia obter, sem referir o terror propriamente dito que enfrenta o mais poderoso dos inimigos – o tempo. Nos dias de hoje, La Maschera del Demonio é obsoleto, mas nada que o impeça de ser mortiferamente sedutor o quanto bastante para culminar um culto, talvez mais envolto naquele seu teor trash e reciclável de Bava do que propriamente uma peça de arte vanguardista. Todavia são as referências que graças a esta obra permaneceram no género. As suas repetidas visualizações poderão servir de case study das mesmas.

Eis um filme valioso que apesar de todas as suas fragilidades, é hoje apontado como o impulsar de um cineasta que tão bem soube conformar com o seu improviso intelectual. E para finalizar vale a pena relembrar que foi com La Maschera del Demonio que a bela atriz Barbara Steele foi lançada, tornando-se numa rainha do trash, três anos antes da sua participação em de Federico Fellini (também ele, à sua maneira, um dos “discípulos” do legado de Mario Bava).