Sexta-feira, 19 Abril

John Carpenter fecha tour em Paris

Quando John Carpenter e a sua banda subiram ao palco do Le Gran Rex (uma gigantesca sala de espetáculos de Paris) dia 9 de novembro para o último concerto da sua tourné europeia , o público francês recebeu-o aplaudindo de pé. Apesar de tudo, parecia difícil acreditar que o mestre do terror estava ali ao vivo, e para celebrar presencialmente a sua obra como realizador e compositor e, acima de tudo, “jovem” bem disposto.

Carpenter e a sua banda (que inclui o seu filho Cody e o seu enteado, portanto, tudo em família) lançaram-se com os temas de “Nova Iorque, 1997” (Escape from New York”, clássico do cinema de ação que Kurt Russell protagonizou em 1981) e “Assalto à 13ª Esquadra” (o filme que deu Carpenter a conhecer ao mundo em 1976). Sintetizadores ao rubro e um ritmo muito “cool” levaram os 2800 fãs ao rubro, e ficou claro o motivo para a celebração: John Carpenter é um autor de cinema como raramente Hollywood recebeu. Os seus filmes, muitos deles de produção de grande estúdio e todos eles de impacto mundial, são obras mais do que pessoais, artesanais. Carpenter escreveu como soube, realizou como quis e musicou os seus filmes como lhe ia na alma. Tal como os seus filmes, e as suas músicas são cheias de exageros e imperfeições, muita garra e espírito. E isso nota-se quando vemos um realizador de 68 anos a dançar de braços no ar com os seus fãs, enquanto Snake Pliskeen brilha no ecrã atrás dele e a sua banda solta mais um “tã tã tã tarã“.

Mote do concerto, Carpenter percorreu os seus álbuns “Lost Themes” e “Lost Themes II“, bem mais instrumentalizados e complexos que as guturais músicas dos seus filmes, e que incluem temas fantásticos como “Vortex” e “Distant Dream“, merecedores de filmes para si mesmos.

Na retrospetiva, Carpenter recordou “Jack Burton nas Garras do Mandarim” como a vez que mais se divertiu com o seu amigo Kurt, com quem teve a sorte de fazer cinco filmes, encheu o palco de fumo para recorder o seu assustador “O Nevoeiro” (um dos mais favoritos em termos musicais) e ainda tocou o tema que Ennio Morricone compôs para o seu “The Thing – Veio do Outro Mundo“, a maior produção que Carpenter realizou, em 1982 para a Universal Studios.

Clip: Eles Vivem!

Sem grande surpresa, um dos grandes momentos da noite foi o passeio cool por Los Angeles, com Carpenter a colocar os óculos de sol, de “Eles Vivem!“. O filme de 1989 em que Roddy Pipper descobria uns óculos de sol que revelavam os extraterrestres que governavam a nossa sociedade foi um “flop” estrondoso quando saiu (e friamente recebido pela crítica) mas tornou-se um dos grandes filmes de culto de Carpenter e, cada vez mais, um filme urgente para a América contemporânea e a nossa sociedade.

Carpenter revistou mais dois temas dos seus álbuns, “Wraight” e o assombro “Night“, virando o espectáculo mais para o lado terror da sua carreira em detrimento da ação “kick ass“.

clip: Halloween

Eu adoro filmes de terror, o cinema de terror irá viver para sempre!” disse Carpenter com a sua voz cavernal (que justificou ele ser anfitrião da antologia “Body Bags” e o voice-over do videjogo “F.E.A.R.3“. Ficava dado o mote para o tema de “Halloween“, um tema tão popular no registo que existe independentemente do seu filme e de Carpenter, uma música que toca em qualquer “mix” de terror. Seguiu-se mais terror com “A Bíblia de Satanás“, filme de 1993 com Sam Neil que apesar de ser dos menos recordados do seu currículo, é dos melhores exemplos do seu cinema.

Após um breve intervalo, Carpenter regressou com um “Fuck Donald Trump!” (tema quente do dia) seguido da revistação de “Príncipe das Trevas“, sugestiva referência a Trump e recordação de um dos seus filmes mais assustadores, datado de 1988. Mais dois temas originais e Carpenter despede-se do público francês dizendo para conduzirem com cuidado para casa e conduzirem com cuidado, antes de se despedir com “Christine“, adaptação do livro de Stephen King sobre um carro assassino, um filme que Carpenter fez contrariado na altura mais acabou por se reconciliar com o tempo.

Foi uma celebração invulgar da carreira de um dos maiores realizadores de culto da história, cuja obra foi ganhando relevância e valor ao com os anos. Pena é que Carpenter já quase não faça filmes (“Ghosts of Mars” de 2001 e “The Ward” de 2010 foram os seus únicos filmes no novo milénio), mesmo que entre albums e a escrita de novelas gráficas se tenha mantido bastante ocupado. Esperemos por mais algum filme, já que o seu cinema cheio de atitude, que mistura terror com ação “kick ass“, faz muita falta.

 

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