Quarta-feira, 24 Abril

Como a imprensa americana é mais pateta que «Esquadrão Suicida»

Leu-se um pouco por toda a crítica e imprensa estabelecida e dita especializada que “Suicide Squad” é “o fim do universo cinematográfico DC Comics“. Curiosamente cada vez mais parece que ele é o fim é da credibilidade dessa mesma imprensa. Desde o início da semana quando as críticas começaram a sair pode-se ler de tudo: que “Suicide Squad” desiludiu os fãs, que será um fracasso económico para o estúdio, que foi alterado contra a vontade do realizador e inclusive que é machista e misógino.

Claro que agora sexta-feira, quando o mundo “real” (aquele que paga bilhetes e gosta de filmes) vê o filme a estrear somos deparados com um cenário curioso: não é que “Suicide Squad” está fortíssimo nas bilheteiras (dizem que vai acima dos 140 milhões de dólares nos EUA só em 3 dias), os fãs estão totalmente mobilizados para o defender, o realizador David Ayer declara-lhe amor e afinal temos um filme onde Harley Quinn dá espectáculo, Amanda Waller é a mais durona e Enchantress a mega-vilã de serviço (mulher, mulher e mulher caso os nomes em inglês confundam, todas a arrasarem no filme).

O The Hollywood Reporter até faz alguma futurologia, num artigo onde comparava os 3 primeiros filmes da DC Cinematic Universe aos 3 primeiros do Marvel Cinematic Universe. Ou seja, ‘Man of Steel’, ‘Batman v Superman’ e ‘Suicide Squad’ contra ‘Iron Man, ‘The Incredible Hulk‘ e ‘Iron Man 2’. Na sua visão, era um 3-0 para a Marvel e sinal que a DC nunca ia chegar a nenhum lado. Um bocado de rir, se considerarmos que ‘Iron Man 2‘ é dos filmes menos apreciados do MCU e o ‘Hulk‘ mencionado é ativamente ignorado pelo MCU e o ator mudou (Edward Norton deu lugar a Mark Ruffalo). Nesse sentido, a bilheteira crescente nos filmes da DC até infere que ‘Wonder Woman’ (4º filme) e ‘Justice League’ (5º filme) vão ser ainda maiores, já que este ‘Suicide Squad’ parece ser um monstro grande nas bilheteiras. 

Mas desentendam-se os que acham que eu vou falar na teoria um pouco ingénua que a Marvel paga aos críticos para atacar a DC Comics. A verdade parece ser bem mais perturbadora e chocante do que essa. Até porque, de Stan Lee a Sebastian Stan, o universo Marvel já por várias vezes elogiou os filmes da DC e intrigou-se com as críticas desmesuradas. A verdade assenta em que a imprensa de cinema – agora reduzida ao online – precisa de “clicks” e de polémicas de bolso, e nada melhor do que o The Hollywood Reporter ou o Indiewire publicarem no mesmo dia três ou quatro artigos que mais ou menos esmagam o novo filme da DC. De “como Suicide Squad é o fim do universo DC” a “como Suicide Squad trata mal as mulheres“, passando por “como Suicide Squad é pior de Fantastic Four” (credo!) e culminando com top de “tudo o que está mal em Suicide Squad“.

A realidade é que a DC Comics lança filmes de enorme antecipação, com uma base de fãs monstruosa (e mais exagerada que a da Marvel, daí fácil presa de “click-baits“) e que ao não se apresentarem tão na consensualidade, se tornam fáceis de virar em alvos de artigos chocantes e ridículos, e acima de tudo, certo que TODA a gente vai partilhar e clicar e comentar a avalanche de artigos que sair a dizer mal do filme.

O que é triste. Por um lado, o filme é alvo de uma polémica por algo que na realidade tem muito pouco a ver com ele (apenas com a sua notoriedade e com o facto de ser uma figura fácil de gerar estas polémicas) e por outro porque empurra até no cinema as pessoas, e a internet, para o recanto “burro” onde há equipa A contra equipa B, ódiozinhos e bandeiras. 

Sinceramente, até uma petição online vira artigo (e tal de um fã da DC contra o Rotten Tomates). Se fosse por aí, então teríamos artigos parvos de manhã à noite – porque petições online são o que mais há, com os argumentos mais absurdos que se possam imaginar.

No final, saímos verdadeiramente mal servidos e um pouco ignorantes. O “show” anterior de críticos contra DC que assistimos foi o de “Batman v Superman“. A distancia na realidade permite notar algumas da suas singularidades. Antes do filme sair podemos ler inúmeros artigos e posts que dissecavam como Ben Affleck era um mau Batman, como Gal Gadot era uma má escolha para Wonder Woman, que os fatos que eles usavam estavam mal, que o CGI do Doomsday visto no trailer estava mal, que o cabelo do Lex Luthor estava mal, etc. etc. etc. Na realidade tudo era analisado como estando péssimo – excepto talvez o Henry Cavill e o seu Super-Homem.

Saído o filme e o seu “show” de ódio na imprensa, deparei-me na realidade com um puzzle muito mais complexo. O filme era sempre dito como o pior filme possível e imaginável. No entanto, o Ben Affleck estava excelente, a Gal Gadot arrasava, a banda sonora do Junkie XL era outro triunfo, visualmente o filme era excelente, afinal aquele fato de metal do Batman até era fixe, o primeiro acto era bom e segundo era mau, ou então o primeiro era mau e o segundo bom. Que o Batman a lutar com o gangue no fim era o melhor Batman de sempre. Outros que ver a tríade da DC no ecrã foi excelente. Bem, a realidade o filme tinha uma mão cheia de virtudes e coisas bem conseguidas, mas claro “é o pior filme do ano“.

Aqui não é muito diferente na realidade. No lixo de críticas odientas já li elogias do tamanho do mundo a Jared Leto e Margot Robbie, outros a Will Smith, outros às personagens de Killer Croc e El Diabo. Críticos que odiaram tudo mas lá a primeira parte dos flashbacks era mesmo boa. Outros que odiaram cada frame mas gostaram na segunda metade estilo “missão suicida“. Na realidade, se juntasse todas as críticas e apagasse todos os insultos baratos, o Suicide Squad teria virtudes em todas as partes, todos os departamentos, todos os segmentos.

O que espelha na realidade que estas críticas não são sequer escritas como opiniões sérias. São escritas como enormidades que vão chamar atenção, numa busca de “links” e “shares” desesperados. E para isso são presas fáceis. São o equivalente a fazer artigos “choque” sobre a Taylor Swift. Toda a gente a conhece, muita gente adora-a, outro tanto odeia. Qualquer artigo a dizer mal dela vai ter milhões de leitores (ambos os lados) mais do que um que seja só positivo. Mais vale dizer mal.

Portanto, acho que as pessoas devem fazer as suas próprias ideias. E terem as suas opiniões sobre as coisas que viram, e verem-nas. Ou não verem se não lhes interessar. Agora isso das modas de opinião é coisa a combater – já que é onde andam a tentar levar-nos por idiotas.

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