Sexta-feira, 19 Abril

Morreu o cineasta José Fonseca e Costa (1933-2015)

Faleceu ontem, 1 de novembro de 2015, o cineasta português José Fonseca e Costa. O realizador contava com 82 anos e foi vítima de uma pneumonia, na sequência de uma pré-leucemia, segundo notícia avançada pelo Expresso.

Nasceu em Angola, em 1933, foi crítico de cinema nas revistas Imagem e Seara Nova e entusiasta do cineclubismo, após ter abandonado os estudos em Direito na Universidade de Coimbra. Na década de 60, decide residir em Itália, onde se torna assistente estagiário de Antonioni no filme O Eclipse (L’Eclisse). Regressa a Portugal em 1964 e realiza diversas curtas-metragens publicitárias. Foi um dos fundadores do entretanto extinto Centro Português do Cinema (CPC), organização importante na produção cinematográfica lusitana da década de 70. Torna-se pioneiro do chamado Cinema Novo, corrente cinematográfica portuguesa inspirada nos ideais da Nova Vaga francesa e do neorealismo italiano que desafiou as convenções de fazer cinema português, na época. É nela que se insere o seu filme de estreia, O Recado (1972), história da eterna espera de uma mulher pelo seu amado, de grande leitura política.

Segue-se As Armas e o Povo (1975), documentário colectivo sobre a Revolução dos Cravos, corealizado, entre outros, por Eduardo Geada, Alberto Seixas Santos, Fernando Lopes, António Pedro-Vasconcelos e o aclamado cineasta brasileiro Glauber Rocha. De seguida, a obra experimental Os Demónios de Alcácer Quibir (1977) sobre o fim do Império Colonial e que conta com a estreia de Sérgio Godinho no cinema, no papel de um trovador. É, no entanto, pelo seu filme seguinte que consegue um dos grandes sucessos junto do público com Kilas, o Mau da Fita (1980). Comédia e filme de culto sobre um gangster “tuga” e os seus esquemas, conquista pouco mais de 120.000 espectadores.

Não fica muito longe do sucesso do seu trabalho anterior quando faz Sem Sombra de Pecado (1982), um dos primeiros filmes que contava com o prestigiado e internacional directo de fotografia Eduardo Serra na equipa, que acabou por fazer 92.080 espectadores, nem com Balada da Praia dos Cães (1987,) adaptação do romance homónimo de José Cardoso Pires, passado na época do Estado Novo e que abordava a investigação de um prisioneiro político. A obra ficou celebrizada pelo papel de Raul Solnado, fora do seu registo cómico, e pelo travelling de abertura numa praia, que pára junto a um cadáver rodeado por cães. Com ele factura quase 82.000 espectadores.

Posteriormente, filma a comédia negra A Mulher do Próximo (1988), o reencontro de um dos pares mais recordados do nosso cinema, Inês de Medeiros e Pedro Hestnes em Os Cornos de Cronos (1990) e o premiado Cinco Dias, Cinco Noites (1996). Os seus trabalhos mais recentes são O Fascínio (2003) e Viúva Rica Solteira Não Fica (2006).

Foi ainda dirigente da Associação de Realizadores de Cinema e Audiovisuais e presidente do conselho de administração da Tobis Portuguesa. Traduziu de Eisenstein Reflexão de Um Cineasta e de Pavese O Companheiro. Encontrava-se a filmar uma produção de Paulo Branco, Axilas, quando foi internado, tendo completado três quartos da rodagem, não se encontrando, ainda, um realizador estipulado para terminá-lo.

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