Sexta-feira, 29 Março

Cannes: Quem ganha a Palma de Ouro?

Palmas para filme sobre Auschwitz! E já agora para Portugal. Pois Gomes e Oliveira arrancaram também alguns dos melhores filmes do festival.

O pano da 68ª edição do festival de Cannes está prestes a descer e a passadeira vermelha com as monumentais escadarias quase a serem pisadas pela derradeira vez este ano. Entretanto, num hotel da Croisette os manos Joel e Ethan Coen, e restantes membros do júri, terão já dados suficientes para enriquecer o palmarés dos eleitos deste ano. E pode dizer-se já que Cannes teve um ano rico em filmes. Também boas surpresas, algumas confirmações e ainda inesperadas deceções. Mas quem ganhará a tão cobiçada Palma de Ouro?

Será o épico deslumbrante e futurista Mountains May Depart, do chinês Jia Zhangke? Será o ousado e provocador The Lobster, do grego Yorgos Lanthimos? Ou será até a arrasadora descida ao inferno de Auschwitz, do húngaro László Nemes, Son of Saul, para nós o melhor filme da Seleção Oficial? Sobre este, diz-se por Cannes, que estará fora por ser uma primeira obra. Quem sabe se os manos Coen não querem deixar a sua marca. Seria bom.


Son of Saul

Sim, ficamos de olho neste Nemes. Pois nenhum filme como este nos deixou vergado por aquela câmara arrasadora e febril que evolui pelas catacumbas do horror, procurando não olhar para a selvajaria humana.

A evolução de uma mulher (Zhao Tao, a atriz fetiche de Zhangke, e também sua mulher) ao longo de três épocas da China, em Mountains May Depart, desde o ano 1999, com a reintegração de Macau, uma espécie de catalisador para o seu desenvolvimento, passando pelo presente e evoluindo para um futuro descrito de forma coerente em 2025, parece ser o registo mais talhado para um prémio que nos fala do mundo de hoje e que teria a dimensão da Palma de Ouro. Se bem que a suprema ironia das relações afetivas e a forma como são afetadas pelo mundo que nos rodeia, com todo o lado de autor de Lanthimos, também assentaria bem a Palma. Aparentemente, os gregos estão a gastar os subsídios das bolsas de apostas já que é dado como o candidato favorito. Tal decisão não nos chocaria.

No entanto, se seguirmos a percentagem das estrelinhas, então a Palma seria entregue a Carol, o tal drama de Todd Haynes em que Cate Blanchett e Rooney Mara interpretam uma relação sensual entre duas mulheres. Contudo, esse acaba também por ser, talvez, a maior desilusão. Talvez porque Haynes, que soube tão bem captar o ambiente conservador dos anos 50 não conseguiu transmitir verdade a esta história da autoria de Patricia Highsmith. Há como que uma frieza e distância que não existe e, não por exemplo, em Longe do Paraíso, um magnífico filme do próprio Haynes, ambientado no mesmo período e a propósito de um romance igualmente proibido. Só que aí vivemo-lo intensamente numa das melhores interpretações de sempre de Julianne Moore.

Carol

Mas houve mais decepções. Desde logo, o presunçoso Youth, de Paolo Sorrentino, a revelar-se cada vez mais como um cineasta incapaz de oferecer um guião que se equipare à sua inegável qualidade do seu cinema visual.

Jacques Audiard também decepcionou, com Dheepan. Teve à sua mercê a possibilidade de fazer um filme sobre o drama daqueles que arriscam a vida (e tanto morrem) a caminho da Europa, mas cedo se acomodou com uma história que não parece suficientemente burilada. E depois tem um final para esquecer.

À margem temos ainda a atrevida provocação do Love de Noé, que só o pudor o relegou da competição – perdoem-me os críticos ferozes ao filme! -, recordando ainda o fantástico documentário de Any Winehouse em que Kapadia se revela com um olho muito particular para o documentário.

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