Quinta-feira, 28 Março

A História de «Star Trek» – Parte 3 (1986-2013)

Tudo corria bem à jornada interestelar da Enterprise quando Leonard Nimoy avança para a sua segunda aventura na realização – no quarto filme dos seis protagonizados pela tripulação clássica. Os dois últimos haviam sido êxitos de público e crítica e uma fórmula parecia encontrada. Os produtores, no entanto, resolveram baralhar as contas e saíram-se… com uma comédia!

Star Trek IV: Voyage Home (O Regresso à Terra) – 1986

Os filmes de “Star Trek” sempre tiveram uma relativa leveza ao misturar exploração espacial com aventura e talvez não estivessem assim tão longe de uma abordagem cómica. Mas de certeza ninguém estava à espera do que estaria por vir.

A começar pelo plot, que não ficaria mal numa obra do Monty Python. Depois das muitas peripécias no filme anterior, que culminou com a tripulação da Enterprise sendo chamada de volta à Terra para responder por diversos “crimes”, eles deparam-se no regresso com uma grave ameaça ao planeta.

Trata-se de uma sonda gigantesca que “desioniza” (a palavra usada é essa…) a Terra, verificando-se que se trata, afinal, de uma tentativa dos seus mensageiros de entrar em contato… com as baleias corcundas! Agora só a comunicação com elas pode fazer a sonda sair da órbita terrestre. Ocorre que estes pobres animais foram extintos pelos humanos no final do século XX. Então a nova missão implica em Kirk e companhia viajarem numa máquina do tempo até o mundo atual e, num único dia, procurarem duas baleias corcundas, roubarem urânio de uma usina ultra protegida e ainda arranjar material para construir um tanque para transportar os cetáceos!

A sensação de surpresa inicial vai dando lugar à mais pura diversão, quando o filme vai engatando piadas que ainda hoje têm graça. Além do mais, a figura bizarra de Spock a circular por São Francisco com uma espécie de quimono e uma fita na cabeça valem o filme.

O projeto unia novamente o produtor Harve Bennett e o realizador Nicholas Meyer, cujas desavenças em função da edição final de “The Wrath of Khan” havia causado o afastamento deste último do terceiro filme da série. Aqui ele volta como co-argumentista. Destaque ainda para a presença da atriz Catherine Hicks (que anos mais tarde seria protagonista da série “Sétimo Céu”), no papel da treinadora das baleias.

Público e crítica adoraram a inovação. Foi o quinto filme mais visto do ano, lucrando mais U$ 20 milhões que o “Aliens” de James Cameron, o único deste género de filmes presente no topo do box office de 1986.

Star Trek V: The Last Frontier (“A Última Fronteira“) – 1989

 

Com a Enterprise a andar de vento em popa nas críticas e nas bilheteiras, ninguém esperava o flop relativo que viria a seguir, naquele que terminou por ser, de longe, o mais mal-amado dos seis filmes de Star Trek com a tripulação original. Foi mal amado para todos, mas particularmente para Shatner, que aqui tentava seguir as pisadas de Leonard Nimoy a lançar-se na realização. Para além dos resultados muito modestos, acabaria por render-lhe duas fatídicas Framboesas de Ouro – escolhido o pior ator e pior realizador de 1989.

O eixo do conflito girava em torno de uma luta contra o meio-irmão de Spock, Sybok (Laurence Luckinbill). Depois de serem perseguidos por um errático líder “kinglon” quando tentavam resgatar reféns daquele povo e dos emulanos no planeta Nimbus III, os tripulantes da Enterprise descobrem que o Vulcano está por trás do sequestro, tendo em vista obter uma nave para chegar até o místico planeta Sha-Ka-Ree.

As coisas começaram complicadas mesmo na fase da pré-produção, quando ninguém se entendia quanto à versão final do argumento. A história original de William Shatner não foi aceite por Nimoy e a Paramount, passando por diversas revisões até ficar a contento de toda a gente. Mas isso não significou a resolução dos problemas: após as exibições para o público, o final teve que ser todo refilmado.

O primeiro final de semana nas salas não foi nada mau, alcançando a melhor abertura de sempre para um filme da franquia. Mas acabou por ser logo esmagado pela violenta concorrência, que incluía o primeiro Batman de Tim Burton, o mega hit Querida Eu Encolhi os Miúdos, Os Caça-Fantasmas 2 e mesmo O Clube dos Poetas Mortos, uma das grandes sensações de 1989. O resultado foi a pior receita dos seus seis primeiros filmes, fazendo com que, mais uma vez, “Star Trek” ficasse em sérios apuros.

Star Trek VI: The Undiscovered Country (O Continente Desconhecido) – 1991

 

A comprovar mais uma vez a impressionante capacidade da franquia em ressurgir das cinzas, “The Undiscovered Country” fez o que parecia impossível: reerguer a série depois do falhanço do filme anterior. Foi o último filme com os membros da tripulação original e, como tal, uma fita que acrescenta à uma história novamente simples e eficiente, um certo ar de melancolia, nostalgia e despedida. De maneira geral, talvez seja dos seis aquele que melhor sobreviveu ao tempo.

Para começar, os créditos exibem uma homenagem ao seu lendário criador, Gene Roddenberry, morto pouco dias depois de assistir a edição final do filme. Um falecimento não despido de controvérsias: segundo a versão oficial da Paramount, o inventor de “Star Trek” teria ficado satisfeito com o resultado; comentários de Nimoy anos depois, no entanto, disseram que o desgosto de Roddenberry com o filme teria aprofundado a sua doença. A obra também é marcada pelas últimas aparições de Nichelle Nichols e De Forest Kelley (morto em 1999) num filme de Star Trek. Por fim, Harve Bennett, o produtor dos quatro filmes anteriores, não sobreviveu ao falhanço de The Last Frontier, sendo substituído por Ralph Winter.

Este era o ano em que a jornada completaria 25 anos de existência e muitos acreditavam que ela já não se recuperaria do desastre anterior. A ideia inicial partiu de Nimoy, exibindo uma perspetiva política claramente otimista em função do muro de Berlim que desabava. Mas começa com referências ambientais menos simpáticas.

A destruição da camada de ozono do planeta dos Klingons obriga-os a negociar uma paz inédita com a União Federal dos Planetas, seus eternos inimigos. Para efetivar o processo com o embaixador klingon (Christopher Plummer) é enviado um reticente almirante Kirk, pouco interessado em fazer um acordo de paz com um povo que, anos antes, foi responsável pela morte do seu filho. Apesar de aceitar a incumbência, vai verificar que há mais gente como ele, mas bastante mais disposta a sabotar a iniciativa.

Quem retornava à equipa era Nicholas Meyer, realizador do já clássico The Wrath of Khan. Inicialmente apenas contratado para escrever o argumento, o que fez com seu amigo Denny Martin Flinn, acabou por ir parar outra vez a realizador aproveitando as reticências de Nimoy para não ferir o ego do seu comparsa William Shatner. Sucesso de crítica e de público, ficando no 15º lugar nos Estados Unidos, numa tabela dominada por um arrasador Exterminador Implcável II – que exibia já um novo modelo de sci-fi… para bem ou para o mal!

Novas Jornadas

As jornadas da Enterprise continuariam, seja no cinema seja na televisão. Já em 1987 uma Paramount preocupada com os cada vez mais altos custos do casting original investia numa franquia paralela, na televisão, com atores menos conhecidos: Star Trek: The Next Generation. Sob a liderança de Patrick Stewart, a nova geração também chegaria ao cinema, com quatro filmes onde os dois primeiros tiveram resultados sólidos: “Generations” (Gerações, 1994), First Contact (O Primeiro Contacto, 1996). Insurrection (Insurreição, 1998), parecia indicar o desgaste do franchise, o que ficou claro com o falhanço de crítica e público de “Nemesis” (2002).

Na televisão, duas séries em simultâneo percorreram os anos 90: Deep Space Nine (1993-1999) e Voyager (1995-2001). Quando a última aventura televisiva ia chegando ao fim (Enterprise, 2001-2005), aliado ao falhanço de “Nemesis”, parecia que era desta que a franquia encontrava o seu fim definitivo. E foi então que alguém lembrou-se de chamar o homem da Missão Impossível 3, J.J.Abrams, para tornar a continuidade possível. Deu certo: Abrams ligou a série à corrente, pôs tudo (literalmente) a voar e “Star Trek“, se não em espírito, mas pelo menos nome, está novamente viva.

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