Sexta-feira, 19 Abril

A História de Star Trek– Parte 2 – Os Filmes (1979-1984)

No final dos anos 70 os filmes com temáticas espaciais ganharam uma força enorme entre o público. Em 1977, Guerra das Estrelas e Encontros Imediatos de 3º Grau foram os dois filmes de maior receita no ano. Dois anos depois, eles estavam novamente no topo – reservando o primeiro lugar a uma curiosa incursão no género do 007 de Roger Moore a viver Aventura no Espaço.  Alien – o 8º Passageiro, de Ridley Scott, ficou no segundo lugar.

Star Trek -The Motion Picture (“A Caminho do Espaço”) – 1979

Foi baseado neste cenário favorável que a Paramount resolveu finalmente, depois de muitos adiamentos, apostar num projeto cinematográfico baseado em Star Trek, cujas séries dos anos 60 se tinham transformado em objeto de culto na década de 70. Star TrekThe Motion Picture (“A Caminho do Espaço”, em Portugal) foi buscar à matriz os seus protagonistas: William Shatner como o  almirante Kirk, Leonard Nimoy como o dr. Spock, e os demais secundários já bem familiares dos fãs da série.

Depois de muitos nomes e projetos abortados, permaneceu o argumento de Harold Livingston, vindo da televisão, que baseou-se numa história de Alan Dean Forster, o ghost writer de George Lucas na transformação em livro do primeiro Guerras das Estrelas. Para realizar foi chamado o veterano Robert Wise, realizador de outro clássico do género, O Dia em que A Terra Parou (1951).

O resultado não agradou toda a gente: com um ritmo lento e um conflito central resumindo-se ao mistério de um super computador, Star Trek: The Motion Picture recebeu muitos comentários desfavoráveis. Muitos críticos se deliciaram a fazer trocadilhos com o título – chamando a obra de The Motionless Picture, The Slow Motion Picture e The Motion Sickness. O crítico do New York Magazine disse que ver o filme era como “assistir alguém a assistir televisão” – referindo-se as longas cenas em que os protagonistas veem imagens no ecrã da Enterprise.

Apesar dos altos custos e das críticas, que quase fizeram a produtora desistir de levar Star Trek para o cinema, o resultado nas bilheteiras, a quarta melhor receita de 1979, acabou por ser considerado sólido o suficiente para garantir a continuidade da franquia. Mas mudanças teriam de ser implementadas.

Star Trek II: The Wrath of Khan (“A Ira De Kahn”) – 1982

Foi nesta obra que se encontrou a fórmula que serviria de base para os filmes Star Trek. Os altos executivos da Paramount quiseram atacar o problema do primeiro filme na raiz. Ao chamar o recém-contratado produtor Harve Bennett, quiseram saber deste se ele conseguia fazer um filme com mais conflito e ação que o primeiro por um custo inferior a U$ 45 milhões (o orçamento do anterior). Sim, ele conseguia: o filme terminou por ter um orçamento de U$ 11 milhões!

Já na parte artística, o trabalho começou pelo visionamento de todos os 79 episódios da série. Foi aí que Bennett escolheu, tanto o vilão, quanto o seu intérprete: tratava-se de Kahn, um homem geneticamente modificado extraído do episódio Space Seed, vivido pelo ator mexicano Ricardo Montalbán – então com uma longa folha de serviços prestados em Hollywood. Para realizar, foi chamado Nicholas Meyer, que em 1979 havia dado nas vistas com um filme de aventura e ficção científica, Os Passageiros do Tempo. Meyer ajudaria também a terminar a primeira versão do argumento.

O poder maléfico do antagonista é o que faz girar a história no sentido da ação. Após de ter sido exilado pelo almirante Kirk num planeta inóspito quando tentou sequestrar uma nave espacial em Space Seed, ele ressurge 15 anos depois em A Ira de Khan. A sua oportunidade de fugir de lá surge quando, inadvertidamente, vão lá parar dois tripulantes da Enterprise. A coisa piora quando, paralelamente, ele descobre que uma equipa de cientistas anda a fazer experimentos com um poderoso mecanismo capaz de criar (e destruir) vida, o Genesis.

Os filmes de J.J. Abrams copiam algumas cenas deste filme, para além de fazer referências a outras – como, por exemplo, a “aula” de “Kobayashi Maru”, cuja vítima aqui é uma Kirstie Alley no seu primeiro trabalho. Num ano onde o grande arraso na bilheteira pertenceu ao “E.T.” do imparável Steven Spielberg, A Ira de Khan foi um grande sucesso de público, tendo obtido a sexta maior receita de 1982. As críticas negativas, desta vez, foram muito menos numerosas – com a obra reunir um grande consenso em termos de avaliação positiva.

Str Trek III: The Search for Spock (“A Aventura Continua”) – 1984

Com Meyer a desentender-se com Bennett devido à edição final do filme anterior, The Search for Spock começa os seus preparativos sem ninguém para a cadeira de realizador. Depois das habituais especulações, convites, recusas, quem acabaria a passar para a linha de frente seria ninguém menos que o próprio Leonard Nimoy. A estas alturas não era muito claro que as esporádicas realizações televisivas do ator o capacitassem para o projeto, mas ele acabou por ser aceite. Isto renderia um comentário espirituoso de Rodenberry, que disse que Bennett tinha “contratado um realizador que não poderia demitir“. Nimoy beneficia da sua personagem estar relativamente ausente durante quase todo o filme. Depois dos acontecimentos de The Wrath of Khan, a Enterprise sai novamente em missão para investigar um estranho fenómeno que ameaça a Terra, quando o almirante Kirk deteta a oportunidade de encontrar o seu amigo desaparecido na história anterior. Pelo meio, terão de enfrentar os “klingons”, a estas alturas já cientes das “maravilhas” da máquina Genesis. Seguindo a fórmula encontrada no projeto precedente, a balancear ação e exploração, não deixa de ser muito interessante a forma como o filme é resolvido – numa longa e lenta sequência repleta de rituais estranhos e pouquíssimos diálogos.

Em termos de crítica, foi bem recebido – com muitos especialistas a fazer notar que este era o mais fiel dos três ao espírito da série televisiva. A crítica da Newsweek, particularmente, elogiava a forma como o filme reduzia o ritmo para permitir momentos de reflexão, comparando-o com obras contemporâneas onde o foco se resumia na ação. Em termos de público, a julgar pelos grandes hits do ano, parecia que o entusiasmo pela ficção científica havia arrefecido, mas o resultado de The Search for Spock foi bastante sólido – ficando em nono lugar como o filme mais visto de 1984.

Como curiosidade, vale dizer que a capacidade de Nimoy como realizador já não seria questionada – pelo menos pelos executivos: seria dele o grande campeão de bilheteiras de 1987, com Três Homens e um Bebé. Mas antes, ele realizaria o mais bem-sucedido dos filmes de Star Trek com a formação clássica, Voyage Home.

To be continued…

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