Sábado, 20 Abril

A História de “Star Trek» – Parte 1 (1966-1979)

Ir até onde nenhum homem alguma vez foi. A ideia presente no título do segundo episódio piloto de Star Trek (o primeiro havia sido recusado pela NBC) era sugestiva e foi o lema que guiou a série que foi ao ar pela primeira vez em 1966. A série surge num momento em que o interesse do público pelo espaço atingia o rubro, motivado pelos próprios acontecimentos no mundo bem real.

Em 1961, Yuri Gagarin despoletava de vez, no contexto da guerra fria, a corrida espacial, sendo o primeiro homem a viajar pelo espaço. Em 1969, os norte-americanos pisariam na lua. Ao mesmo tempo, era uma época de enormes transformações sociais e culturais, que também fizeram com que a jornada intergaláctica incluísse os mais diversos comentários políticos, ideológicos e morais do seu tempo.

A história foi criada por um ex-piloto da força aérea e policia da LAPD convertido em produtor televisivo, Gene Roddenberry, que vendeu o projeto à NBC em 1964. Uma das fontes de inspiração foi um sucesso televisivo, também em episódios, o western “Wagon Train”, que narrava a epopeia de uma caravana cuja missão era ir do Missouri à Califórnia. Ao mesmo tempo, as “Viagens de Gulliver” contribuíram com o seu tom de descoberta e exploração. Os livros de guerras navais de C.S. Forester e um clássico do cinema dos anos 50, “Planeta Proibido”, também figuram entre as principais inspirações do autor – conforme relatou na sua autobiografia.

SÉRIES ORIGINAIS (1966-1969)

“Star Trek”, cujas três primeiras temporadas, com 79 episódios, foram rebatizadas posteriormente de “Séries Originais”, narrava uma grande quantidade de aventuras espaciais a bordo da nave Enterprise. No comando, um intempestivo capitão James Kirk (William Shatner), assessorado por um frio e pragmático cientista, dr. Spock (Leonard Nimoy) e mais um grupo que se tornaria bastante familiar do público com o sucesso posterior da franquia: Dr. McCoy (DeForest Kelley), Uhura (Nichelle Nichols), Dr. Scott (James Dooham), Sulu (George Takei) e Chekov (Walter Koenig).

A declaração de intenções, repetida no início de cada episódio, tornaria-se célebre: “Espaço, a fronteira final. Estas são as viagens da nave espacial Enterprise. Numa missão de cinco anos para explorar novas formas de vida, novas civilizações e ir onde nunca ninguém foi”. Fiel ao seu espírito inicial, a ação nunca era passada na Terra atual – apenas encontrada em episódios que envolviam viagens no tempo.

Neste novo universo, onde a convivência com extraterrestres era comum (o próprio Dr. Spock era um Vulcano), a Enterprise fazia parte da United Federation of Planets, cuja missão era manter a paz na galáxia. Alguns antagonistas presentes nas séries originais se tornariam célebres: os emulanos (apresentados em “Balance of Terror“), os klingons (“Errand of Mercy“) e o terrível Khan (“Space Seed“) – que estaria de volta em “A Ira de Khan“, segundo filme baseado no franchise.

Nestas jornadas de “cinco anos”, a Enterprise e seus membros participaram de batalhas intergalácticas, lidaram com terríveis vilões e com todo o tipo de alienígenas, androides e monstros e seres com poderes psíquicos; por mais de uma vez tiveram a tripulação “possuída” por influências maléficas, descobriram planetas, realidades paralelas e viagens no tempo. Foi a era dourada da verdadeira ficção científica em Star Trek, um espírito que ainda se conservou nos seis filmes com a tripulação clássica.

UMA SÉRIE SEM SUCESSO… E OS “TREKKIES”

Ao contrário do que hoje se poderia supor, estas três primeiras temporadas não tiveram um grande sucesso de público no tempo em que foram lançadas e, no final de cada uma delas, a NBC pensava em cancelá-la – o que acabou por fazer, definitivamente, em 1969.

Foi por estas alturas que sentiu-se pela primeira vez a influência de um público fiel e dedicado, que posteriormente ganharia o epíteto de “trekkies“. Extremamente ativos, eles produziam fanzines, periódicos e, em 1976, organizaram a primeira das suas famosas convenções. Foi em parte através deles e das reprises da década de 1970 que a série se espalharia pelo mundo e se tornaria um fenómeno de culto, deixando um enorme legado à cultura popular.

Apesar disto, não haveria, excetuando um animação que ficaria no ar entre 1973 e 1974, uma nova produção televisiva até 1987 – já com outros tripulantes. Os esforços de Roddenberry para desenvolver um novo projeto terminaram por ser aproveitados naquele que seria o primeiro filme baseado na obra – Star Trek -The Motion Picture (“A Caminho do Espaço” em Portugal), de 1979. Mas isto é assunto para outra jornada…

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